É assim o homem, caro senhor, tem duas faces: não pode
amar sem se amar. Observe os seus vizinhos, se calha de haver um falecimento no
prédio. Dormiam na sua vida monótona e eis que, por exemplo, morre o porteiro.
Despertam imediatamente, atarefam-se, enchem-se de compaixão. Um morto no
prelo, e o espectáculo começa, finalmente. Têm necessidade de tragédia, que é
que o senhor quer?, é a sua pequena transcendência, é o seu aperitivo.
Albert Camus em A Queda
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