Aqui, no meu bairro de Campo de Ourique, onde deambulo, vejo,
frequentemente, palavras escritas a tinta preta nas paredes dos prédios e nos
abrigos das paragens dos autocarros, que são sucintas declarações de amor. Por
exemplo: “André love Patrícia”. No
suplemento semanal do “DN Jovem”, do “Diário de Notícias” , preenchido por textos, em prosa e verso,
de jovens escritores, é frequente ver os títulos desses textos redigidos em
inglês.
O caso mais impressionante como sinal do domínio da civilização
americana e da nossa falta de identidade, é o de uma manifestação pública de
estudantes universitários de Lisboa contra o preço das propinas. Nessa manifestação,
berrando e gesticulando, os estudantes portugueses, em Portugal, erguiam um
cartaz em que se lia “Não pagamos until the end of the world”. De espantosos
que é, aqui vos deixo a data do documento que comprova o que vos digo: Diário
de Notícias de 15 de Maio de 1992.
Um outro aspecto impressionante é o da alteração que se tem efectuado
da escrita de diversos apelidos portugueses acrescentando-lhe um apóstrofo e um
s. O senhor Silva, conhecido leiloeiro de livros, de Lisboa, e que anuncia os
seus leilões nos jornais, passou a anunciá-los intitulando-se SILVA’S.
Admirável, meus queridos tetranetos. Orgulhai-vos de ser portugueses. Desta
pátria, a mais formosa e linda, que ondas do mar e luz do luar viram ainda.
O vosso pentavô António Nunes,
pai da vossa tetraavó Natália, mulher do tetravô que vos está escrevendo, era
natural de Oliveira de Frades, uma modesta e graciosa vila do distrito de
Viseu, onde eu, e a dita vossa tetravó Natália, fomos diversas vezes passar as
férias de verão para recompor o corpo e o espírito passeando nas estradas e nos
atalhos da localidade. Um dos poucos estabelecimentos aí existentes era a loja
do senhor Grilo. Assim era antes do 25 de Abril. Veio a Revolução, veio a
liberdade de expressão e, quando fomos de novo a Oliveira de Frades,
pasmaram-se-nos os olhos ao lermos s tabuleta sobre a porta do modesto estabelecimento.
Dizia: GRILLO’S.
Rómulo de Carvalho em
Memórias
Sem comentários:
Enviar um comentário