Da mesa onde está, por entre os intervalos das cortinas, vê passarem lá
fora os carros eléctricos, ouve-os ranger nas curvas, o tilintar das campainhas
soando liquidamente na atmosfera coada da chuva, como os sinos duma catedral
submersa ou as cordas de um cravo ecoando infinitamente entre as paredes de um
poço. Os criados esperam com paciência que este último freguês acabe de
almoçar, entrou tarde, pediu por favor que o servissem, e graças a essa prova
de consideração por quem trabalha é que foi retribuído quando já na cozinha se
arrumavam as panelas.
José Saramago em O Ano da Morte de Ricardo Reis
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