José Saramago: A Luz e o Sombreado
Fernando Venâncio
Colecção Campo da
Literatura nº 53
Campo das Letras,
Porto, Novembro de 2000
Fomos muitos os que passámos uma fase de deslumbramento por Agustina.
De José saramago é que não se adivinhava semelhante fraqueza. São duas as vezes
que dela na Seara Nova se ocupa, à distância de seis meses, e tanto parece ter
bastado para a quebra do feitiço. Decerto: logo começara por achar que as
ideias da romancista “não se limitam a ser conservadoras: são retrógadas.” Mas,
pergunta-se ele, “como é possível não ser submergido pela beleza torrencial
desta escrita, que não tem igual na literatura portuguesa deste tempo?” E
conclui: se há em Portugal “um escritor de génio”, esse é Agustina Bessa-Luís.
Saramago estava apanhadinho. Mas, meio ano depois, caía em si. Começa
devagar, com passos de felino: “Sendo ou não sendo o maior escritor de hoje, é
caertamente o que melhor domina e molda o barro da língua.” Mas… ela tem “os
defeitos das suas virtudes”, E poderá acabar embalada na música que ela própria
produz. Deste modo, “tanta beleza plástica, tanta profundidade”, vão terminar
afundadas na confusão, na incoerência.
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