terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

OLHAR AS CAPAS


José Saramago: A Luz e o Sombreado

Fernando Venâncio
Colecção Campo da Literatura nº 53
Campo das Letras, Porto, Novembro de 2000

Fomos muitos os que passámos uma fase de deslumbramento por Agustina. De José saramago é que não se adivinhava semelhante fraqueza. São duas as vezes que dela na Seara Nova se ocupa, à distância de seis meses, e tanto parece ter bastado para a quebra do feitiço. Decerto: logo começara por achar que as ideias da romancista “não se limitam a ser conservadoras: são retrógadas.” Mas, pergunta-se ele, “como é possível não ser submergido pela beleza torrencial desta escrita, que não tem igual na literatura portuguesa deste tempo?” E conclui: se há em Portugal “um escritor de génio”, esse é Agustina Bessa-Luís.
Saramago estava apanhadinho. Mas, meio ano depois, caía em si. Começa devagar, com passos de felino: “Sendo ou não sendo o maior escritor de hoje, é caertamente o que melhor domina e molda o barro da língua.” Mas… ela tem “os defeitos das suas virtudes”, E poderá acabar embalada na música que ela própria produz. Deste modo, “tanta beleza plástica, tanta profundidade”, vão terminar afundadas na confusão, na incoerência.

Sem comentários: