terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

VISTA PARCIAL DUMA ALDEIA DURIENSE


Há nesta aldeia oitocentas almas,
mas vinte, pelo menos, têm o corpo
lá longe, em terras de África. É a guerra.
As cartas vão chegando como sopros.

Chegam as cartas e algumas notas de banco.
O sô Manso já comprou um fogão a gás.
Enquanto o filho arrisca a pele, ele
vive um pouco melhor. Coisas da paz.

De lá perguntam, como vai a cava,
se as raparigas têm paciência, claro!,
se o vinho é bom, se os filhos obedecem.

Aqui, o dia vem depois da noite,
mastigam-se as ideias com o caldo
e, às vezes, as mulheres empalidecem.

António Cabral em Os Homens Cantam a Nordeste

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