quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

RESTOS DE UM ANTIGO GOSTO DE SABER VESTIR...


Mário-Henrique Leiria, a 29 de Janeiro de 1963, ainda está em S. Paulo.

Conta a Isabelinha que anda «atarefadíssimo dando “golpe” sobre “golpe para conseguir documentos (mesmo falsos, se necessário) e raspar-me definitivamente deste esterco brasileiro. Aliás, ainda hoje estou para saber realmente qual foi a verdadeira razão que me fez vir para aqui… ou talvez saiba e não quero reconhecê-la…»

Aproveita para agradecer uma gravata que Isabel lhe enviou por ocasião do seu 40º aniversário, ocorrido a 2 de Janeiro:

«Porque dizes tu que o teu presente é ridículo? Isabelinha, nada que venha de ti pode ser ridículo; há tanta ternura em mim por tudo que és tu; que nada poderá ser ridículo para mim. Para além disso, se fosse eu a comprar a gravata, teria escolhido exactamente a que tu me enviaste. A pessoa que me trouxe a gravata teve um comentário que acertou mesmo: “Quem te mandou esta gravata deve conhecer-te muito bem…” Apesar de tudo, doce Maruska, ainda mantenho uns restos do meu antigo gosto por saber vestir, há quem diga que, quando quero. Sou o tipo que mais estranhamente e mais “blasément” veste em S. Paulo.»

O final da carta deu nisto:

«Peço-te que continues a falar de ti, da tua nova e maravilhosa vida, do teu John, de tudo o que, para ti, vale a vida. Peço-te também uma coisa; que sempre que tiveres notícias da Fipsy me contes como ela vai sendo feliz. Porque te faço este pedido, não sei… ou talvez saiba demais; é que me resta, saber que ele é feliz e continua a sê-lo… Que queres, querida Maruska, sou assim!
… e agora vou acabar de ler um bom e saudável romance policial e liquidar o resto da garrafa de vodka (“Bogka” para fingir que sei russo) que está ao alcance da minha mão direita (como bom deus pagão que posso perfeitamente ser, não tenho o “Filho” à mão direita, mas sim um objecto de maior libertação e realidade).

Sem comentários: