Mário-Henrique Leiria,
a 29 de Janeiro de 1963, ainda está em S. Paulo.
Conta a Isabelinha
que anda «atarefadíssimo dando “golpe”
sobre “golpe para conseguir documentos (mesmo falsos, se necessário) e raspar-me
definitivamente deste esterco brasileiro. Aliás, ainda hoje estou para saber
realmente qual foi a verdadeira razão que me fez vir para aqui… ou talvez saiba
e não quero reconhecê-la…»
Aproveita para
agradecer uma gravata que Isabel lhe enviou por ocasião do seu 40º aniversário,
ocorrido a 2 de Janeiro:
«Porque dizes tu que o teu presente é ridículo? Isabelinha, nada que
venha de ti pode ser ridículo; há tanta ternura em mim por tudo que és tu; que
nada poderá ser ridículo para mim. Para além disso, se fosse eu a comprar a
gravata, teria escolhido exactamente a que tu me enviaste. A pessoa que me
trouxe a gravata teve um comentário que acertou mesmo: “Quem te mandou esta
gravata deve conhecer-te muito bem…” Apesar de tudo, doce Maruska, ainda
mantenho uns restos do meu antigo gosto por saber vestir, há quem diga que,
quando quero. Sou o tipo que mais estranhamente e mais “blasément” veste em S.
Paulo.»
O final da carta deu
nisto:
«Peço-te que continues a falar de ti, da tua nova e maravilhosa vida,
do teu John, de tudo o que, para ti, vale a vida. Peço-te também uma coisa; que
sempre que tiveres notícias da Fipsy me contes como ela vai sendo feliz. Porque
te faço este pedido, não sei… ou talvez saiba demais; é que me resta, saber que
ele é feliz e continua a sê-lo… Que queres, querida Maruska, sou assim!
… e agora vou acabar de ler um bom e saudável romance policial e
liquidar o resto da garrafa de vodka (“Bogka” para fingir que sei russo) que
está ao alcance da minha mão direita (como bom deus pagão que posso
perfeitamente ser, não tenho o “Filho” à mão direita, mas sim um objecto de
maior libertação e realidade).
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