Carta, «hoje não será uma carta romântica,
desculpa», para a «caríssima Isabelinha»,
desde S. Paulo e datada de 8 de Janeiro de 1963:
Agradece ao teu John, por mim, a sugestão de me meter num cargueiro e
ir por aí. Para mim não serve Isabelinha. Como sabes, já fui oficial da Marinha
Mercante e sei que a solidão do mar e do céu, em vez de me dar paz, só me dá
angústia. Sou um homem com os pés agarrados à terra, não sou um vagabundo dos
sete mares, sou um solitário dos cinco continentes. No entanto, agradeço a boa
vontade da sugestão, que é muito britânica. Aliás, como também sabes, nunca
mais haverá paz para mim, até ao fim.
Peço-te que não peças mais que Deus me abençoe, como tens feito nas
tuas últimas cartas. Bênçãos de deuses, Isabelinha, não são para mim, que não
creio neles.. S, para ti, é um consolo falar com o Deus que para ti existe,
então diz-lhe que não preciso dele para nada, e muito menos para me abençoar.
Se ele pode fazer qualquer coisa, então que dê um jeito para que eu consiga a paz
definitiva… já não é nada mau.
Mário-Henrique Leiria
em Depoimentos Escritos
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