sexta-feira, 10 de maio de 2024

NOTÍCIAS DO CIRCO

Possivelmente, não se saberão tão cedo, os motivos que levaram o comentador- televisivo-Marcelo-Rebelo-de-Sousa-disfarçado-de-presidente-da-república, a destituir o governo de António Costa que era apoiado na Assembleia da República por uma maioria do Partido Socialista.

Em entrevista conduzida por Leonardo Ralha e publicada no Diário de Notícias, Violante Saramago, filha do Nobel português, sente-se chocada com a «Operação Influencer» e escreveu um livro de refexões sobre a demissão do governo a que chamou «70 Dias à Margem da Democracia», em que não poupa críticas a Marcelo Rebelo de Sousa e à procuradora-geral da República Lucília Gago e escolheu para epígrafe do livro uma passagem de «Ensaio Sobre a Cegueira»: «Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.»

«Não queria fazer aqui alguma avaliação jurídica sobre uma matéria para a qual não tenho nenhuma competência, mas como cidadã, como mulher que pensa, e já viu muita coisa, achei que era preciso olhar, ver e reparar. Não vou dizer que não foram inocentes, mas precisam de nos convencer que foram coincidências e não foi tudo preparado. É preciso que nos convençam que, de facto, não houve uma montagem que levou ao que levou. Havia, constitucionalmente, outros caminhos que não quiseram seguir. Têm de convencer um país inteiro que vê cair um Governo, e vê dissolver uma Assembleia da República de maioria absoluta, de que tudo isto está certo do ponto de vista ético, do ponto de vista constitucional e do ponto de vista da política

(…)

«António Costa caiu numa armadilha logo na posse do último Governo, quando o Presidente defendeu no seu discurso que a maioria absoluta dependia da permanência do primeiro-ministro em funções?

O discurso na tomada de posse indiciava que poderíamos ver-nos, um dia, numa situação deste tipo. O Presidente da República sabe muito melhor do que eu, porque sou bióloga e ele é constitucionalista, que na Constituição não há uma letra que diga que o primeiro-ministro é eleito. Até pode não pertencer a nenhuma lista de candidatos. Um partido ganha as eleições e propõe um primeiro-ministro. Portanto, não é o facto de o primeiro-ministro se demitir que implica, legal, institucional e constitucionalmente, qualquer dissolução de uma Assembleia com maioria absoluta».

(…)

«Governo da AD devia estar calado. Começava, por exemplo, por formar uma lista [de ministros] que a O gente percebesse que não foi feita à última hora. É o Presidente da República quem diz e não eu, porque não fui eu que a recebi. Faria muito melhor em não dar o triste espetáculo que foi a eleição do presidente da Assembleia da República. Não estamos a falar da eleição de um gestor de condomínio. Estamos a falar da segunda figura de Estado. Aqueles chumbos sucessivos foram uma coisa inaudita e inimaginável. O Governo da AD, em vez de estar muito preocupado com o facto de, oportunisticamente, o partido de extrema-direita aprovar projetos do PS, devia estar, sobretudo, preocupado em saber como vai governar o país. É que ainda não vi nada. Vi mudar o símbolo, o que é uma coisa absolutamente caricata. Se a coisa prioritária e emblemática é mudar o símbolo, tenho a sensação de que estamos num retrocesso civilizacional preocupante.» 

2 comentários:

Anónimo disse...

Chocada? a sério? e quanto às posições estalinistas do pai nada a acrescentar?

Sammy, o paquete disse...

Se analisarmos algo sobre o como e o porquê do 25 de Abril, deve fazer-se notar que uma parte dos capitães sempre entenderam que o derrubar um regime não poderia ser a única iniciativa do golpe, essa acção militar teria que ser acompanhada com um programa político de princípios e onde o fim da guerra colonial e a conquista da Liberdade teriam que ficar bem expressos, o dizer claro e livremente a raiz do pensamento.
Quanto ao resto, lembrar o que já Voltaire, em tempos recuados deixara escrito: «Discordo do que diz, mas defenderei até a morte seu direito de dizê-lo».