domingo, 26 de maio de 2024

COMEÇOS DE LIVROS


«O lendário Rio Grande, naquele trecho onde o cruzámos e naquela época do ano, não passava de um magro fio de água a escorrer melancólico pelo leito cor de cobre brunido.

- A seca – explica lacónico o chefe do comboio, sujeito baixo, de agudo perfil azteca.

A nossa composição – duas carruagens com pouquíssimos passageiros – era arrastada por uma velha locomotiva, lente e sem fôlego.

- Tu vês – murmurei para a companheira –nenhuma pessoa em seu juízo perfeito faz esta viagem de comboio…

- Os loucos viajam de avião – sorriu ela. – Até agora não tenho de que me queixar.»

Começo de México de Erico Veríssimo.

Teria os 13/14 anos, o meu pai encontrou-me num dos maples da Biblioteca da casa a ler este livro.

-Estás a ler um grande livro de um lindíssimo país.

Tinha toda a razão.

O epílogo do livro, com uma bonita capa de Bernardo Marque, compadre do poeta José Gomes Ferreira:

«É bom estar de volta. Tenho de confessar a mim mesmo que já sentia falta desta ordem, desta limpeza. Deste conforto.

Mas ai! O tempo passa, a saudade do México começa a assaltar-me com tanta frequência que termino numa confusão de sentimentos.

Eu sabia que o epílogo deste livro não podia ser feliz! Estou talvez condenado a oscilar o resto da vida entre esses dois amores, sem saber exactamente o que desejo mais, se o mundo mágico ou o mundo lógico. Só me resta uma esperança de salvação. É a de que, entre a tese americana e a antítese mexicana, o Brasil possa vir a ser um dia a desejada síntese.

Y quién sabe?»

A imagem deste texto, é um dos desenhos que Erico Veríssimo fez para ilustrar o seu livro. 

Sem comentários: