«O lendário Rio Grande, naquele trecho
onde o cruzámos e naquela época do ano, não passava de um magro fio de água a
escorrer melancólico pelo leito cor de cobre brunido.
- A seca – explica lacónico o chefe do
comboio, sujeito baixo, de agudo perfil azteca.
A nossa composição – duas carruagens com
pouquíssimos passageiros – era arrastada por uma velha locomotiva, lente e sem
fôlego.
- Tu vês – murmurei para a companheira
–nenhuma pessoa em seu juízo perfeito faz esta viagem de comboio…
- Os loucos viajam de avião – sorriu
ela. – Até agora não tenho de que me queixar.»
Começo de México de Erico Veríssimo.
Teria os 13/14 anos, o meu pai
encontrou-me num dos maples da Biblioteca da casa a ler este livro.
-Estás
a ler um grande livro de um lindíssimo país.
Tinha toda a razão.
O epílogo do livro, com uma bonita capa
de Bernardo Marque, compadre do poeta José Gomes Ferreira:
«É
bom estar de volta. Tenho de confessar a mim mesmo que já sentia falta desta
ordem, desta limpeza. Deste conforto.
Mas
ai! O tempo passa, a saudade do México começa a assaltar-me com tanta
frequência que termino numa confusão de sentimentos.
Eu
sabia que o epílogo deste livro não podia ser feliz! Estou talvez condenado a
oscilar o resto da vida entre esses dois amores, sem saber exactamente o que
desejo mais, se o mundo mágico ou o mundo lógico. Só me resta uma esperança de
salvação. É a de que, entre a tese americana e a antítese mexicana, o Brasil
possa vir a ser um dia a desejada síntese.
Y quién sabe?»
Sem comentários:
Enviar um comentário