Quando amanheceu ainda não sabias.
Havia uma alegria anódina,
uma alegria de haver palavras
de serem repetidas e manhãs caídas
como chuva de outono
e ser abril ainda,
abril
como degraus de subir o silêncio
e mastigar a fome, degraus de cair
no lugar de haver cansaço
e ser noite.
Quando
amanheceu ainda não sabias.
Quando amanheceu eu já existia
dentro de ti.
E quando soubeste que nas ruas
se dizia a manhã de ser abril,
abriste a porta de sair da noite,
desceste os degraus de repetir
a manhã que se dizia
e foste abril, mãe,
abril ainda.
José Rui Teixeira
Nota do Editor: Este poema de José Rui Teixeira foi tirado do Público de 30 de Abril de 2024.
José Rui Teixeira nasceu no Porto, em 1974. É doutorado em Literatura pela Universidade do Porto. Dirige o projecto editorial Officium Lectionis e a Cátedra de Sophia (Universidade Católica). É director pedagógico do Colégio Luso-Francês, professor, ensaísta e poeta.
Poesia Pública é uma iniciativa do Museu e Bibliotecas do Porto comissariada por Jorge Sobrado e José A. Bragança de Miranda. Ao longo de 50 dias publicaremos 50 poemas de 50 autores sobre revolução. Este poema foi tirado do Público de 30 de Abril de 2024.
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