quarta-feira, 1 de maio de 2024

O MEU PRIMEIRO DE MAIO

Sozinho, sempre sozinho,

mesmo quando vou a teu lado.

 

De ti que constróis o rumor das cidades

e no campo, semeias, lavras,

e pisas

o sabor do vinho.

 

Sozinho, sempre sozinho.

aqui  vou a teu aldo

eu, o poeta, operário de palavras

- as palavras «sonho?, «bandeira*, «esperança», «liberdade» -

instrumentos de pureza irreal

que tornam a Realidade

ainda mais real

e transformam os bairros de lata

em futuras cidades de cristal

num planeta de paisagens de prata

onde as bocas das flores, das manhãs, dos vulcões,

da brancura do linho

e das foices de gume doirado

cantarão um dia connosco a Internacional

- que eu continuarei a cantar sozinho,

sempre sozinho,

a  teu lado.

 

José Gomes Ferreira em O Diário, s/d

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