Possivelmente, não se saberão tão cedo, os motivos que levaram o
comentador- televisivo-Marcelo-Rebelo-de-Sousa-disfarçado-de-presidente-da-república,
a destituir o governo de António Costa que era apoiado na Assembleia da
República por uma maioria do Partido Socialista.
Em entrevista conduzida por Leonardo Ralha e publicada no Diário de Notícias,
Violante Saramago, filha do Nobel português, sente-se chocada com a «Operação
Influencer» e escreveu um livro de refexões sobre a demissão do governo a que
chamou «70 Dias à Margem da Democracia», em que não poupa críticas a Marcelo
Rebelo de Sousa e à procuradora-geral da República Lucília Gago e escolheu para
epígrafe do livro uma passagem de «Ensaio Sobre a Cegueira»: «Se podes olhar,
vê. Se podes ver, repara.»
«Não
queria fazer aqui alguma avaliação jurídica sobre uma matéria para a qual não
tenho nenhuma competência, mas como cidadã, como mulher que pensa, e já viu
muita coisa, achei que era preciso olhar, ver e reparar. Não vou dizer que não
foram inocentes, mas precisam de nos convencer que foram coincidências e não foi
tudo preparado. É preciso que nos convençam que, de facto, não houve uma
montagem que levou ao que levou. Havia, constitucionalmente, outros caminhos
que não quiseram seguir. Têm de convencer um país inteiro que vê cair um
Governo, e vê dissolver uma Assembleia da República de maioria absoluta, de que
tudo isto está certo do ponto de vista ético, do ponto de vista constitucional e
do ponto de vista da política.»
(…)
«António
Costa caiu numa armadilha logo na posse do último Governo, quando o Presidente defendeu
no seu discurso que a maioria absoluta dependia da permanência do
primeiro-ministro em funções?
O
discurso na tomada de posse indiciava que poderíamos ver-nos, um dia, numa
situação deste tipo. O Presidente da República sabe muito melhor do que eu,
porque sou bióloga e ele é constitucionalista, que na Constituição não há uma
letra que diga que o primeiro-ministro é eleito. Até pode não pertencer a
nenhuma lista de candidatos. Um partido ganha as eleições e propõe um
primeiro-ministro. Portanto, não é o facto de o primeiro-ministro se demitir que implica, legal,
institucional e constitucionalmente, qualquer dissolução de uma Assembleia com
maioria absoluta».
(…)
«Governo da AD devia estar calado. Começava, por exemplo, por formar
uma lista [de ministros] que a O gente percebesse que não foi feita à última
hora. É o Presidente da República quem diz e não eu, porque não fui eu que a
recebi. Faria muito melhor em não dar o triste espetáculo que foi a eleição do
presidente da Assembleia da República. Não estamos a falar da eleição de um
gestor de condomínio. Estamos a falar da segunda figura de Estado. Aqueles
chumbos sucessivos foram uma coisa inaudita e inimaginável. O Governo da AD, em
vez de estar muito preocupado com o facto de, oportunisticamente, o partido de
extrema-direita aprovar projetos do PS, devia estar, sobretudo, preocupado em
saber como vai governar o país. É que ainda não vi nada. Vi mudar o símbolo, o que
é uma coisa absolutamente caricata. Se a coisa prioritária e emblemática é
mudar o símbolo, tenho a sensação de que estamos num retrocesso civilizacional
preocupante.»
2 comentários:
Chocada? a sério? e quanto às posições estalinistas do pai nada a acrescentar?
Se analisarmos algo sobre o como e o porquê do 25 de Abril, deve fazer-se notar que uma parte dos capitães sempre entenderam que o derrubar um regime não poderia ser a única iniciativa do golpe, essa acção militar teria que ser acompanhada com um programa político de princípios e onde o fim da guerra colonial e a conquista da Liberdade teriam que ficar bem expressos, o dizer claro e livremente a raiz do pensamento.
Quanto ao resto, lembrar o que já Voltaire, em tempos recuados deixara escrito: «Discordo do que diz, mas defenderei até a morte seu direito de dizê-lo».
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