quarta-feira, 1 de maio de 2024

OS DIAS SEGUINTES A ABRIL 25


Aquele primeiro 1º de Maio…

 As ruas cheias de gente, homens e mulheres a chorarem, a abraçarem-se, que se chamaram «tu» sem se conhecerem de parte alguma, sonhos buliçosos, uma autêntica nave de loucos, fim de um tempo abjecto, desesperado, os nossos os jovens a morrerem numa guerra inglória.

Não acreditem no que as fotografais dos jornais, os registos dos filmes, mostram.

Foi muito mais do que aquilo que vos é mostrado.

Sabemos, hoje, que esses dias foram de uma perenidade violenta, esperanças frustradas, desilusões, esforços, muitos esforços mas que, pequenos que sejam., eram resultados.

Roubar a alguém o sonho duma vida inteira é pior, e mais imperdoável, do que privá-lo do pão que lhe é devido.

Como escreveu José Gomes Ferreira em Revolução Necessária:

 «A festa do 1º de Maio de 1974, em que milhares e milhares de pessoas vieram para a luz do mundo forra de carne humana e cores livres de bandeiras, os prédios, o céu, o vento, o pesadelo morto. Momento que já principia a parecer um sonho, talvez apenas possível de descrever com a tinta mágica das lágrimas que todos nós trouxemos para a rua nessa tarde tão generosa e inocente.

Mas oxalá essas lágrimas do povo não tenham um dia de gelar até à dureza de balas viris – mutação a que eu também já assisti em ocasiões terríveis de terramotos implacáveis.»

 VINDOS do exílio em Argel, chegam a Lisboa Fernando Piteira Santos e Manuel Alegre.

Manuel Alegre na Praça da Canção tem um poema: Nós Voltaremos sempre em Maio:

Amanhã não estaremos já neste lugar
amanhã a cidade já não terá o teu rosto
e a canção não virá cheia de ti
escrever em cada árvore o teu nome verde.

Amanhã outros passarão onde passámos
farão os mesmos gestos dirão as mesmas palavras
dirão um nome baixo um nome loucamente
como quem sobre a morte é por instantes eterno.

Amanhã a cidade terá outro rosto.
Nós não estaremos cá. Mas a cidade
já não será contra o amor amanhã quando
os amantes passarem na cidade livre.

Nós não estaremos cá. Voltaremos em Maio
quando a cidade se vestir de namorados
e a liberdade for o rosto da cidade nós
que também fomos jovens e por ela e por eles

amámos e lutámos e morremos
nós voltaremos meu amor nós voltaremos sempre
no mês de Maio que é o mês da liberdade
no mês de Maio que é o mês dos namorados.

OS 
EXILADOS políticos poderão, logo que entenderem, regressar a Portugal e com o pleno exercício dos seus direitos.

A VIOLAÇÃO da correspondência era feita por acção directa da PIDE/DGS e não pelos trabalhadores dos CTT.

O SINDICATO dos Escritórios denuncia que há patrões que não querem pagar o 25 de Abril aos trabalhadores e chegaram a despedir trabalhadores que faltaram nesse dia.

A RÁDIO RENASCENÇA é ocupada pelos trabalhadores com uma nova administração eleita, depois de a anterior administração ter censurado as reportagens da chegada a Lisboa de Mário Soares e Álvaro Cunhal e dos cantores Luís Cilia e José Mário Branco.

AOS POUCOS os jornalistas vão demitindo as direcções e conselhos de administração dos diversos órgãos de informação, colocando nos seus lugares jornalistas e pessoas que estejam com o espírito de Abril.

Eduardo Valente da Fonseca publica no República uma Carta Aberta a alguns jornalistas:

«Vocês que bajularam ministros, presidentes das câmaras, governadores civis, figuras proeminentes da política e da finança, vocês que se bateram à miseranda cartinha com uma gratificação dentro para tecerem toda a espécie de falsos elogios e louvores, que enriqueceram ou passaram a levar um estilo de vida que o vosso magro ordenado não comportava, que se puseram sempre do lado das autoridades contra os trabalhadores e os estudantes, vocês que sob o estado repressivo de Salazar e Marcelo nunca apareceram publicamente a manifestar o vosso desacordo, vocês não são dignos de escrever para um Povo que só agora se apressam a vir dizer que respeitam, e não são dignos de serem lidos por um leitor novo, que começa a despertar para ajudar o verdadeiro jornalista a construir com ele um outro país, uma nova relação humana sem censura nem camaleonismo. Desistam e reformem-se que o Povo, a Cultura e o Jornalismo agradecem.»

O ESCUDO subiu em Nova Iorque, também em Londres, o que é inédito numa revolução.

ANÙNCIO  no Diário de Notícias de 3 de Maio de 1974, um político libertado procura emprego: 


O TEATRO da Cornucópia decidiu suspender a peça que tinha em ensaios para começarem a trabalhar na encenação de «Grandezas e Misérias do III Reich» de Bertold Brecht.

A DIRECÇÂO do Teatro Nacional de S. Carlos decidiu a abolição da obrigatoriedade do uso de traje de rigor que se mantinha para os espectáculos de estreia. Aguarda-se uma nova política de preços.

 DEIXAM de publicar-se dois jornais que apoiavam o antigo regime: Novidades e Debate.

 FRANCISCO Pinto Balsemão pretende fundar um partido de centro-esquerda.

 CHEGAM do exílio no Brasil, Ruy Luís Gomes e José Morgado.

 A JUNTA de Salvação Nacional desmente a prisão de Amália Rodrigues.

 O PAIGC rejeita a autodeterminação de Spínola.

 O EX- MINISTÉRIO das Corporações passa a denominar-se Ministério do Trabalho.

DECRETADA a amnistia a refractários e desertores das Forças Armadas.

 MANIFESTAÇÃO do MRPP impede no Aeroporto o embarque de soldados para as colónias: Regresso imediato dos Soldados! Nem mais um militara para as colónias!

 FORAM em vão as diversas tentativas que o jornal Época fez para que o jornal passasse de intransigente defensor do antigo regime a apoiante do espírito de Abril.

Passou de Época a A Época, depois A Época Livre.

OS TEMPOS em que até os capitalistas respeitavam o Dia do Trabalhador, e faziam-no decretar, como publicidade paga, nos jornais:

Sem comentários: