Aquele primeiro 1º de Maio…
As ruas cheias de gente, homens e mulheres a chorarem, a abraçarem-se, que se chamaram «tu» sem se conhecerem de parte alguma, sonhos buliçosos, uma autêntica nave de loucos, fim de um tempo abjecto, desesperado, os nossos os jovens a morrerem numa guerra inglória.
Não acreditem
no que as fotografais dos jornais, os registos dos filmes, mostram.
Foi muito
mais do que aquilo que vos é mostrado.
Sabemos,
hoje, que esses dias foram de uma perenidade violenta, esperanças frustradas,
desilusões, esforços, muitos esforços mas que, pequenos que sejam., eram
resultados.
Roubar a
alguém o sonho duma vida inteira é pior, e mais imperdoável, do que privá-lo do
pão que lhe é devido.
Como escreveu
José Gomes Ferreira em Revolução Necessária:
«A festa do 1º de Maio de 1974, em que milhares e milhares de pessoas vieram para a luz do mundo forra de carne humana e cores livres de bandeiras, os prédios, o céu, o vento, o pesadelo morto. Momento que já principia a parecer um sonho, talvez apenas possível de descrever com a tinta mágica das lágrimas que todos nós trouxemos para a rua nessa tarde tão generosa e inocente.
Mas oxalá essas lágrimas do povo não tenham um dia de gelar até à dureza de
balas viris – mutação a que eu também já assisti em ocasiões terríveis de
terramotos implacáveis.»
VINDOS do exílio em Argel, chegam a Lisboa Fernando Piteira Santos e Manuel Alegre.
Manuel Alegre
na Praça da Canção tem um poema: Nós Voltaremos sempre
em Maio:
Amanhã não estaremos já neste lugar
amanhã a cidade já não terá o teu rosto
e a canção não virá cheia de ti
escrever em cada árvore o teu nome verde.
Amanhã outros passarão onde passámos
farão os mesmos gestos dirão as mesmas palavras
dirão um nome baixo um nome loucamente
como quem sobre a morte é por instantes eterno.
Amanhã a cidade terá outro rosto.
Nós não estaremos cá. Mas a cidade
já não será contra o amor amanhã quando
os amantes passarem na cidade livre.
Nós não estaremos cá. Voltaremos em Maio
quando a cidade se vestir de namorados
e a liberdade for o rosto da cidade nós
que também fomos jovens e por ela e por eles
amámos e lutámos e morremos
nós voltaremos meu amor nós voltaremos sempre
no mês de Maio que é o mês da liberdade
no mês de Maio que é o mês dos namorados.
OS EXILADOS
políticos poderão, logo que entenderem, regressar a Portugal e com o pleno
exercício dos seus direitos.
A VIOLAÇÃO da
correspondência era feita por acção directa da PIDE/DGS e não
pelos trabalhadores dos CTT.
O SINDICATO
dos Escritórios denuncia que há patrões que não querem pagar o 25 de Abril aos
trabalhadores e chegaram a despedir trabalhadores que faltaram nesse dia.
A RÁDIO
RENASCENÇA é ocupada pelos trabalhadores com uma nova administração eleita,
depois de a anterior administração ter censurado as reportagens da chegada a
Lisboa de Mário Soares e Álvaro Cunhal e dos cantores Luís Cilia e José Mário
Branco.
AOS POUCOS os
jornalistas vão demitindo as direcções e conselhos de administração dos
diversos órgãos de informação, colocando nos seus lugares jornalistas e pessoas
que estejam com o espírito de Abril.
Eduardo
Valente da Fonseca publica no República uma Carta Aberta a
alguns jornalistas:
«Vocês que bajularam ministros,
presidentes das câmaras, governadores civis, figuras proeminentes da política e
da finança, vocês que se bateram à miseranda cartinha com uma gratificação
dentro para tecerem toda a espécie de falsos elogios e louvores, que
enriqueceram ou passaram a levar um estilo de vida que o vosso magro ordenado
não comportava, que se puseram sempre do lado das autoridades contra os
trabalhadores e os estudantes, vocês que sob o estado repressivo de Salazar e
Marcelo nunca apareceram publicamente a manifestar o vosso desacordo, vocês não
são dignos de escrever para um Povo que só agora se apressam a vir dizer que
respeitam, e não são dignos de serem lidos por um leitor novo, que começa a
despertar para ajudar o verdadeiro jornalista a construir com ele um outro
país, uma nova relação humana sem censura nem camaleonismo. Desistam e
reformem-se que o Povo, a Cultura e o Jornalismo agradecem.»
O ESCUDO
subiu em Nova Iorque, também em Londres, o que é inédito numa revolução.
ANÙNCIO no Diário de Notícias de 3 de Maio de 1974, um político libertado procura emprego:
O TEATRO da
Cornucópia decidiu suspender a peça que tinha em ensaios para começarem a
trabalhar na encenação de «Grandezas e Misérias do III Reich» de Bertold Brecht.
A DIRECÇÂO do Teatro Nacional de S. Carlos decidiu a abolição da
obrigatoriedade do uso de traje de rigor que se mantinha para os espectáculos
de estreia. Aguarda-se uma nova política de preços.
DEIXAM de publicar-se dois jornais que apoiavam o antigo regime: Novidades e Debate.
FRANCISCO Pinto Balsemão pretende fundar um partido de centro-esquerda.
CHEGAM do exílio no Brasil, Ruy Luís Gomes e José Morgado.
A JUNTA de Salvação Nacional desmente a prisão de Amália Rodrigues.
O PAIGC rejeita a autodeterminação de Spínola.
O EX- MINISTÉRIO das Corporações passa a denominar-se Ministério do Trabalho.
DECRETADA a amnistia a refractários e desertores das Forças Armadas.
MANIFESTAÇÃO do MRPP impede no Aeroporto o embarque de soldados para as colónias: Regresso imediato dos Soldados! Nem mais um militara para as colónias!
FORAM em vão as diversas tentativas que o jornal Época fez para que o jornal passasse de intransigente defensor do antigo regime a apoiante do espírito de Abril.
Passou
de Época a A Época, depois A Época
Livre.
OS TEMPOS em
que até os capitalistas respeitavam o Dia do Trabalhador, e faziam-no decretar,
como publicidade paga, nos jornais:
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