quinta-feira, 2 de maio de 2024

O OUTRO LADO DAS CAPAS

Há uma frase de Jorge Calado lida não lembro onde:

«O primeiro sintoma duma cultura é a culinária. Diz-me o que comes, dir-te-ei quem és.»

Para continuar uma outra frase, esta do jornalista Rodrigues da Silva, que há algum tempo nos deixou:

«…em miúdo, atraído pelo cheiros e antegozando os sabores, metia o bedelho na cozinha, minha mãe corria comigo de lá, dizendo-me assim: «Aprende a fazer o refogado, que depois mexes no tacho».

 Sempre gostei de comer em tascas, tabernas.

Liquidaram-nas. Umas viraram frutarias, outras bancos, outras lojas de artesanato, outras reles snacks, também restaurantes a armar ao pingarelho.

Deixei-me de comer em restaurantes. Cansaram-me Gosto de comer em casa. Coisas simples, insuportavelmente domésticas, banais, fáceis. Acresce que, nos restaurantes, para além de se comer mal, ou não comer muito bem, somos indecentemente roubados, pagamos balúrdios por coisas de nada. Dos vinhos nem se fala. Aquilo não é ganhar dinheiro, é roubar!...

Mas quando era miúdo, quando se comia fora, era uma festa.

O livro que trouxemos hoje ao Olhar as Capas, é um dos que constam na Biblioteca da Casa para acompanhar as experiências que vamos fazendo na arte petisqueira e serviram na perfeição nos tempos em que a Aida teve uma taberna em Almoçageme

A sugestão fomos encontrá-la no mestre José Quitério:

«Publicado em 1904, o Tratado conheceu êxito sólido. Quando apareceu, o último grande livro de culinária de autor português era o de João da Mata, de 1876, muito mais virado para a alta cozinha de recorte evidentemente francês. O Bento da Maia (como passou a ser identificado) é, sobretudo, uma súmula da cozinha burguesa que não descura a popular e regional portuguesa. Além das novecentas e quarenta e quatro receitas de iguarias diversas e das cento e noventa e oito dos doces, oferece amplos ensinamentos sobre tudo quanto se relaciona com a cozinha e a mesa, de maneira acessível para principiantes. Esta última característica valeu-lhe a popularidade: era o livro que se oferecia às noivas, para que pudessem trazer os maridos bem presos à rédea curta da boa petisqueira caseira.»

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