sexta-feira, 3 de maio de 2024

UMA LIÇÃO DE POESIA, UMA LIÇÃO DE MORAL

 

                        À memória de Paul Éluard

 

Estudaste a bondade aprendeste a alegria

Iluminaste a noite com a estrela

E o desejo com a necessidade

 

Comunicativo bom inteligente

Soubeste sofrer sem destruir a vida

Sem chamar pela morte

 

Soubeste vencer o íntimo lazer

As absurdas manias que a solidão instala

No coração virado na cabeça perdida

 

Soubeste mostrar o mais secreto amor

Numa alegria feroz perfeita pública

Capaz de provocar o ódio e a ternura

 

Em todas as frentes que por ti passavam

Contra-atacaste repelindo o mal

Com pesadas perdas para o inimigo

 

E na miséria que subia aos rostos

Puseste a nu a resistência a esperança

E um futuro sorriso

 

Enquanto velhas feridas se fechavam

Tua poesia abriu-se e hoje é comum

E transparente como os olhos das crianças

 

Hoje é o pão o sangue e o direito à esperança

À esperança que é «um boi a lavrar um campo»

E que é «um facho a lavrar o olhar»

 

Andaste triste mas não foste a tristeza

Sofreste muito mas não foste a dor

Amaste imenso e eras o amor

 

Cantaste a beleza proferiste a verdade

Encontraste não uma mas a razão de ser

Compreendeste a palavra felicidade

 

E numa extrema juventude e sob o peso

Precioso da simplicidade

Tudo disseste

 

Disseste o que devias dizer.

Alexandre O’ Neill em No Reino da Dinamarca

Sem comentários: