Cedo me disseram que temos direitos mas também deveres. Estes últimos ficam, normalmente, no bolso do colete.
Comprei este
livrinho livrinho em 1970, num alfarrabista, o Fausto, na Rua Angelina Vidal. Custou-me
vinte e cinco tostões.
Será um
perfeito lugar comum dizer que este é um livro importantíssimo.
Copio o
artigo 23º:
« 1 - Toda
a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições
equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego.
2 - Todos têm direito, sem
discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual.
3 - Quem trabalha tem direito a uma
remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua família uma
existência conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por
todos os outros meios de protecção social.
4 - Toda a pessoa tem o direito de
fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em sindicatos para a defesa
dos seus interesses.
Não poderia
deixar de citar as palavras que José Saramago, num dos seus Discursos da Suécia, entendeu lembrar ao mundo:
Neste meio século não parece que os governos tenham feito pelos direitos humanos tudo aquilo a que moralmente estavam obrigados. As injustiças multiplicam-se, as desigualdades agravam-se, a ignorância cresce, a miséria alastra. A mesma esquizofrénica humanidade capaz de enviar instrumentos a um planeta para estudar a composição das suas rochas, assiste indiferente à morte de milhões de pessoas pela fome. Chega-se mais facilmente a Marte do que ao nosso próprio semelhante.
Alguém não anda a cumprir o seu dever. Não andam a cumpri-lo os governos, porque não sabem, porque não podem, ou porque não querem. Ou porque não lho permitem aquelas que efectivamente governam o mundo, as empresas multinacionais e pluricontinentais cujo poder, absolutamente não democrático, reduziu a quase nada o que ainda restava do ideal da democracia. Mas também não estão a cumprir o seu dever os cidadãos que somos. Pensamos que nenhuns direitos humanos poderão subsistir sem a simetria dos deveres que lhes correspondem e que não é de esperar que os governos façam nos próximos 50 anos o que não fizeram nestes que comemoramos. Tomemos então, nós, cidadãos comuns, a palavra. Com a mesma veemência com que reivindicamos direitos, reivindiquemos também o dever dos nossos deveres. Talvez o mundo possa tornar-se um pouco melhor.
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