quarta-feira, 22 de maio de 2024

OLHAR AS CAPAS


Caminhos Para uma Revolução

Jacinto Baptista

Capa: José Cândido

Colecção: Documentos de Todos os Tempos

Livraria Bertrand, Lisboa, Abril de 1975  

Assim, Salazar, dado como morto ressuscita.

Um repórter do Diário Popular falou esta manhã, na Casa de Saúde da Cruz Vermelha, onde Salazar está hospitalizado, com o Prof. Bissaia Barreto, que diariamente visita o enfermo. E começou por recolher esta declaração:

- O Senhor Presidente dormiu muito bem, passou uma noite muito calma, com um sono reparador. De manhã, o seu espírito encontrava-se desanuviado. Conhece as pessoas que entram no seu quarto, profere o nome das pessoas conhecidas, a sua memória responde mesmo à evocação de factos passados.

O repórter pergunta depois ao Prof. Bissaia Barreto se esta recuperação permitia manter esperanças de ser dada alta, em breve, a Salazar. Respondeu (fé inabalável):

- Tenho a certeza de que pode ainda levar uma vida normal e escolher o seu próprio modo de vida. Tenho a certeza. O tempo não interessa em casos destes. O que interessa é que ele regresse à vida.

Mais tarde, em entrevista à Televisão, simultaneamente recolhida pelos jornais, Bissaia Barreto declarava:

- O Senhor Presidente estará, em breve, em condições de se ocupara da sua vida pessoal e da vida que interessa à Nação.

A Censura, desconcertada, inquieta, resolve suprimir, nesta frase, as palavras e da vida que interessa à Nação, que não leremos no jornal e todavia ouviremos à noite no telejornal. E a Televisão que, pelos vistos, aposta na ressurreição de Salazar, vai mais longe, citando o Prof. Eduardo Coelho como tendo declarado que se esperava, no enfermo, uma recuperação psíquica da ordem dos oitenta a noventa por cento, motora de sessenta a setenta por cento. E Como Salazar, segundo Eduardo Coelho, tinha uma cabeça que valia por seis cabeças normais, mesmo que só recuperasse um sexto, ainda ficaria bem.

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