Caminhos Para uma Revolução
Jacinto Baptista
Capa: José Cândido
Colecção: Documentos de Todos os Tempos
Livraria Bertrand, Lisboa, Abril de 1975
Assim,
Salazar, dado como morto ressuscita.
Um
repórter do Diário
Popular falou esta manhã, na Casa de Saúde da Cruz Vermelha, onde
Salazar está hospitalizado, com o Prof. Bissaia Barreto, que diariamente visita
o enfermo. E começou por recolher esta declaração:
-
O Senhor Presidente dormiu muito bem, passou uma noite muito calma, com um sono
reparador. De manhã, o seu espírito encontrava-se desanuviado. Conhece as
pessoas que entram no seu quarto, profere o nome das pessoas conhecidas, a sua
memória responde mesmo à evocação de factos passados.
O
repórter pergunta depois ao Prof. Bissaia Barreto se esta recuperação permitia
manter esperanças de ser dada alta, em breve, a Salazar. Respondeu (fé
inabalável):
-
Tenho a certeza de que pode ainda levar uma vida normal e escolher o seu
próprio modo de vida. Tenho a certeza. O tempo não interessa em casos destes. O
que interessa é que ele regresse à vida.
Mais
tarde, em entrevista à Televisão, simultaneamente recolhida pelos jornais,
Bissaia Barreto declarava:
-
O Senhor Presidente estará, em breve, em condições de se ocupara da sua vida
pessoal e da vida que interessa à Nação.
A
Censura, desconcertada, inquieta, resolve suprimir, nesta frase, as palavras e
da vida que interessa à Nação, que não leremos no jornal e todavia ouviremos à
noite no telejornal. E a Televisão que, pelos vistos, aposta na ressurreição de
Salazar, vai mais longe, citando o Prof. Eduardo Coelho como tendo declarado
que se esperava, no enfermo, uma recuperação psíquica da ordem dos oitenta a
noventa por cento, motora de sessenta a setenta por cento. E Como Salazar, segundo Eduardo
Coelho, tinha uma cabeça que valia por seis cabeças normais, mesmo que
só recuperasse um sexto, ainda ficaria bem.
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