quinta-feira, 30 de junho de 2011

JANELA DO DIA


O primeiro-ministro anunciou, hoje, que o Governo vai adoptar  “uma contribuição especial para o ajustamento orçamental em sede de IRS” equivalente a 50% do subsídio de Natal acima do salário mínimo nacional.

O povo aguarda no adro, mas a procissão ainda nem sequer saiu da igreja.

Tal como, no século passado, escreveu Miguel Torga, ao povo tudo lhe fazem, mas ajoelha-se sempre quando passa a procissão.

OS CROMOS DO BOTECO

COISAS EXTINTAS OU EM VIAS DE...


Naqueles tempos, poucos, muito poucos mesmo, tiveram a sorte de encontrar em casa estantes com livros.
Tiveram que os procurar e esses são os especiais, os que procuraram.
É aqui que entram aquelas carrinhas das bibliotecas itinerantes da Fundação Gulbenkian que percorriam as cidades e vilas do país.
Há quem tenha histórias para contar, de quem tenha encontrado, para além dos livros, um bibliotecário-motorista que os orientou em leituras, em desbravar caminhos.
Em alguns jardins de Lisboa, havia um armário metálico com livros e revistas que se encontrava a cargo do empregado camarário do jardim.
A Aida lembra-se do que havia no Jardim Constantino onde leu o “Condor Popular”, “O Cavaleiro Andante”, o “Mundo de Aventuras”.

Manuel António Pina, numa recente entrevista ao “Público”:

 “Interessavam-me os surrealistas. O Alexandre O’Neill, lia-o desde os 13 ou 14 anos. Havia aquelas bibliotecas da Gulbenkian, e eu ia lá requisitar os livros. Lembro-me de ter levado para casa um do O’Neill e outro do Tomaz Kim porque estava convencido de que eram poetas ingleses.”.

É PERMITIDO AFIXAR ANÚNCIOS

quarta-feira, 29 de junho de 2011

JANELA DO DIA


Numa declaração, clarinha como água, o secretário-geral da CGTP, Manuel Carvalho da Silva, criticou o que o ministro da economia Alvaro Santos Pereira  tratou com o patronato, dizendo serem "conversas entre amigos para lixar o povo".

À CGTP-IN, NADA DISSE!!

Em causa a possibilidade de o Governo, entre outras medidas, estar a preparar um imposto extraordinário sobre o rendimento a aplicar ainda este ano.

Sua Excelência o presidente da República lembrava ontem que “os portugueses fizeram uma escolha inequívoca nas últimas eleições e, agora, o executivo deve ter"a oportunidade de aplicar as ideias que apresentou"

Legenda: fotografia de Bem Sahn.

GRANDE PRÉMIO DE ROMANCE DA ASSOCIAÇAO PORTUGUESA DE ESCRITORES


O escritor Gonçalo M. Tavares venceu o Grande Prémio de Romance e Novela atribuído pela Associação Portuguesa de Escritores, em conjunto com o Ministério da Cultura, pela obra "Uma Viagem à Índia",
Gonçalo M. Tavares, com 41, é autor de uma vasta obra, largamente premiada, não só em Portugal, como no estrangeiro.
O Manuel António Pina citava recentemenete uma “boutade” do Jorge Luís Borges que só lia livros com mais de 50 anos, porque o tempo já tinha feito metade do trabalho.
Hoje em dia só mais de reler autores antigos do que ler obras de gente nova. Por nenhum preconceito especial, uma mania, parva mania, como outra qualquer.
A cereteza que eu tenho com os livros que li e passei a Mara é que nunca me desiludem
Entendendo que era um disparate, em tempos, o Mário ofereceu-me  primeiro“A Máquina de Joseph Walser” e depois “Jerusalém”.
ficando com a sensação de que não os soube ler.
Quando há dias, em França,  lhe  atribuíramo o Prix du Meilleur Livre Étranger 2010 (França), para o livro "Aprender a rezar na era da técnica", disse para comigo que este não entender/gostar de Gonçalo M. Tavares era um assunto a rever. Com carácter de urgência.
Está decidido: amanhã desço à “Pó dos Livros” e trego “Viagem à India” debaixo do braço.
Gosto de merecer o ar que respiro.

POSTO DE GASOLINA


Poiso a mão vagarosa no capot dos carros como se afagasse a crina dum cavalo. Vêm mortos de sede. Julgo que se perderam no deserto e o seu destino é apenas terem pressa. Neste emprego, ouço o ruído da engrenagem, o suave movimento do mundo a acelerar-se pouco a pouco. Quem sou eu, no entanto, que balança tenho para pesar sem erro a minha vida e os sonhos de quem passa?”

Carlos de Oliveira em “Sobre o Lado Esquerdo”, Iniciativas Editoriais”, Janeiro 1968

DA MINHA GALERIA



Quando por um Natal calhou-me como prenda um disco da Aldina Duarte, “Apenas o Amor” tive uma surpresa muito agradável.

Desconhecia por completo Aldina Duarte e fiquei impressionada com a voz, o estilo, as palavras que cantava e passei a acompanhar o seu percurso.

Gosto de pessoas que sobem a pulso, que não precisam de muletas para chegar onde chegam e não esquecem as dificuldades que encontraram na vida.
Sabermos que quem gostamos de ouvir, também gostamos de ver como pessoa, é uma coisa muito feliz.

Por ocasião do lançamento do seu último disco, “Contos de Fados", Aldina Duarte deu uma entrevista muito bonita à revista “Pública”. Se tiverem oportunidade de a ler não percam, foi publicada juntamente com o jornal do dia 29 de Maio.

Quero deixar-vos alguns dos bocadinhos que mais me tocaram:

“Os livros ajudaram em tudo. No inicio eram mesmo a minha única e grande saída daquele mundo limitado em que vivia, Chelas. Quando aprendo a ler, muito cedo, aprendo a ler a ler livros. Eram duas coisas que não se separavam.

O grande acontecimento que marca a minha infância é o fascismo. A minha infância foi triste, e cruel. Nem é uma coisa de que goste de falar. Como tema de conversa é sério demais. As crianças pobres assistem à humilhação dos pais, pobres. É um sofrimento redobrado.

O 25 de Abril, é óbvio. Foi a restituição da dignidade merecida. Toda a gente a merece, à partida, e a minha mãe especialmente. Acreditou sempre que ia haver uma revolução. E disse-me. Era o nosso segredo. Nunca podíamos falar disto com ninguém, havia a Pide.

É uma das coisas que se culpabiliza. Mas quem se tornou uma adulta à força foi a situação, o fascismo, não foi a minha mãe.

A minha mãe tinha uns pais muito inteligentes, que a amaram muito. Apesar de vir de uma grande pobreza, tem uma origem em nada miserável. É só pobre, não acumula. Normalmente, a pobreza atrai a miséria e contaminam-se reciprocamente, mas não era o nosso caso.

Mas fui uma criança racional. A minha mãe diz que eu não chorava, dizia: “Apetece-me chorar”. É sinistro. O meu primeiro grande contacto com as emoções foi na adolescência. Lembrei-me que não tinha sido feliz na infância. E tive raiva. “Tiraram-me a infância, esses filhos da mãe dos fascistas.

E sejamos pragmáticos, era o espaço que tinha para não estar sozinha, e protegida. Adoro a rua, é a única memória de alegria da minha infância. A rua e aqueles jardins das casa apalaçadas onde a minha mãe trabalhou. O meu gosto pelo universo pagão vem daí, de andar na serra de Sintra nos jardins do Palácio do penedo. Imaginava como sempre fui, havia alturas em que acreditava que as árvores falavam, que havia fadas, gnomos…

Fui obrigada a cantar sentimentos que nunca tinha cantado. As dores do amor, as alegrias do amor, a cidade, a raiva, o desespero – canto isso desde sempre. Mas o vazio, a frieza, a incapacidade de amar, não. Uma biografia também não. A mentira a fealdade, também não. Tive de ir a um fundo a que ainda não tinha ido, para poder interpretar.”

terça-feira, 28 de junho de 2011

JANELA DO DIA


Ficou hoje a conhecer-se o programa do XIX Governo Constitucional PSD/CDS.

1.
O Partido Socialista que, conjuntamente com o PSD e o CDS, assinou o memorando da troika, alega que o documento é muito denso e remeteu para os próximos dias uma posição oficial.

2.
O Bloco de Esquerda, considera que as medidas que fazem parte do programa de Governo trarão muitas dificuldades às famílias.

"O PSD e o CDS conseguiram transformar um mau acordo com a troika num péssimo programa de governo. As políticas sociais levam violento arrombo. São substituídas por uma caridade à moda de antigamente. Os portugueses vão ter menos cuidados de saúde e vão pagar mais".

3.
Para o Partido Comunista Português “este programa submete-se ao acordo da troika e consegue ainda apresentar novas medidas negativas que não estavam nesse acordo como a possibilidade de o trabalho suplementar não ser remunerado e mais privatizações para além das previstas.”

4.
Sua Excelência o presidente da Republica, falando hoje aos jornalistas no final da sessão de encerramento do 8º Encontro Nacional Inovação COTEC, sem fazer qualquer referência ao programa do Governo deixou alguns lembretes:


a)      “Já tive ocasião de dizer e tem sido muito repetido que têm sido tempos muito difíceis e não tenhamos ilusões, e os portugueses sabem bem disso, e se bem se recordam há talvez mais de dois anos que disse que Portugal se aproximava de uma situação explosiva, lamentavelmente chegámos a essa situação explosiva”

b)      "Não podemos ter ilusões de que temos uma estrada fácil à nossa frente, basta olhar para outros países para termos bem a consciência de que vamos passar por sacrifícios, não serão talvez fáceis, mas o importante é que haja uma luz de esperança", insistiu.

c)       “Os portugueses fizeram uma escolha inequívoca nas últimas eleições e, agora, o executivo deve ter "a oportunidade de aplicar as ideias que apresentou".

JORNAIS


Dado a exageros e ignorâncias várias, estabeleci comigo mesmo uma teoria de que o jornalismo em Portugal acabou quando os jornais saíram do Bairro Alto.

Quando deixei de ver os tipógrafos, essa malta da ganga a discutir nos cafés de bairro junto aos jornais, o que o que eles tinham linotipado e não veio a ser publicado.

Quando ao subir a Rua Luz Soriano, ou a Rua da Rosa, deixei de ser sentir aquele cheiro bom a papel impresso.

Os poucos jornalistas que ainda existem, tratam de os colocar em prateleiras, negoceio-lhes a saída, ou, simplesmente, despedem-nos. Já não há seniors, gente com tarimba, a trabalhar nas redacções, apenas estagiários a trabalharem gratuitamente ou como paga a receberem bilhetes para irem ao Rock In Rio.

Meia dúzia de editores olham o que eles escrevem e às vezes nem isso.

Quando da morte do historiador Vitorino Magalhães Godinho, puseram na 1ª página uma fotografia de seu irmão, também já falecido, o advogado José Magalhães Godinho.
Há dias o Sr. João Marcelino, director do “Diário de Notícias”, recusou um artigo de opinião do brigadeiro Pezarat Correia. Depois, face aos protestos, lá publicou o artigo e  esgalhou, destinada a camelos, uma desculpa esfarrapada.

Há uns meses, Francisco Pinto Balsemão, foi homenageado pelo Clube Português de Imprensa e no discurso de agradecimento disse que os jornais estão cheios de gente que inventa factos e rumores perigosíssimos.

Vindo de quem vem, não posso estar mais de acordo, mas não vi ninguém preocupar-se com a afirmação.

Hoje os jornais têm as primeiras páginas cheias de sensacionalismos, inverdades, tragédias e mais tragédias, um galope doentio que se torna epidemia e afecta as pessoas, e, com enormes destaques, falam de gente que não conheço de parte alguma, e as que conheço, dispensava pormenores como, por exemplo, saber que o Cristiano Ronaldo fintou os jornalistas, que o baptizado do filho que era para ser á tarde, aconteceu de manhã.

Este texto mal disposto, mal amanhado, assim ao correr do teclado, é apenas para vos chamar a atenção para a crónica, texto à parte, que Manuel António Pina, publicou hoje no “Jornal de Notícias”.

NÃO É CENSURA, É OUTRA COISA


Crónica de Manuel António Pina no “Jornal de Notícias” de hoje:

 “Tudo em seis meses: novo presidente, novo governo, nova maioria e ("zoom" para, sucessivamente, grande plano, plano aproximado e "close up") novo director do "Expresso" e novo Estatuto Editorial cujo ponto 7 reza: "O 'Expresso' sabe, também, que em casos muito excepcionais, há notícias que mereciam ser publicadas em lugar de destaque, mas que não devem ser referidas, não por autocensura ou censura interna, mas porque a sua divulgação seria eventualmente nociva ao interesse nacional. O jornal reserva-se (...) o direito de definir, caso a caso, a aplicação deste critério."
Chegou, pois, a altura de um jornal declarar, sem rebuço, que não publicará notícias "que mereciam ser publicadas em lugar de destaque" se entender que a sua divulgação pode "eventualmente" ser "nociva ao interesse nacional". O jornal ponderará, caso a caso, o "interesse nacional" das notícias, mas algo fica, desde já, claro: para esse jornal, a verdade factual deixou de ter por si só, mesmo dentro da lei, "interesse nacional"; e mais: o jornal passará a substituir-se ao poder político e a definir o que é, ou não, de "interesse nacional", podendo decidir não dar a conhecer verdades se as achar inconvenientes ou inoportunas. A bem da Nação.
Se ainda havia algum pudor, deixou de haver: um jornal assume às claras que se rege por critérios de oportunidade (políticos por excelência) e não exclusivamente por critérios jornalísticos.”


Legenda: imagem tirada da "Vida Mundial", 18 de Dezembro de 1970

POSTAIS SEM SELO


Há barcos que gostamos de perder,
que partem devagar para outras mortes
e nos deixam juntos, sem palavras.

Manuel de Freitas

OLHAR AS CAPAS


“Cândido”
Voltaire
Tradução de Maria Isabel Gonçalves Tomás
Colecção Livros de Bolso nº 63
Publicações Europa-América
Lisboa, Agosto de 1973

" E enquanto assim falava, Cândido não deixava de comer. O Sol punha-se e os dois fugitivos ouviram alguns gritinhos que pareciam soltados por mulheres. Tais clamores partiam de duas raparigas inteiramente nuas que corriam vivamente na orla do prado, enquanto  dois macacos as seguiam mordiscando-lhe as nádegas.  Cândido apiedou-se delas. Pegou na espingarda espanhola de dois canos e matou os dois macacos.
- Deus seja louvado, meu caro Cacambo! Livrei de um grande perigo estas pobres criaturas.
Ia continuar, mas sentiu a língua presa quando viu as jovens beijarem ternamente os dois macacos, debulharem-se em lágrimas sobre seus cadáveres, enchendo o ar de gritos angustiados.
- Não esperava encontrar tanta bondade de alma – disse ele por fim a Cacambo que lhe replicou:
- Fizestes uma bela obra-prima, meu amo. Matastes os amantes destas meninas.
- Os amantes? Será possível? Zombais de mim, Cacambo, não posso acreditar em vós!
- Meu caro amo – respondeu Cacambo -, espantai-vos sempre com tudo: por que razão havíeis de achar estranho que em alguns países haja macacos que obtenham as boas graças das damas? Eles são um pouco homens, como eu sou um pouco espanhol.
- De facto - replicou Cândido -, recordo-me de ter ouvido dizer ao Dr. Pangloss que outrora  se verificaram semelhantes casos  e que dessas misturas provinham  os faunos, os centauros e os sátiros, seres que foram vistos por várias personagens ilustres da antiguidade. Mas julgava que tudo isso fosse fábula.”

segunda-feira, 27 de junho de 2011

JANELA DO DIA



1
Sério aviso à navegação.

Já não é o terrível drama da Grécia, nem da Irlanda, nem Portugal, talvez dentro de dias,  a Espanha a Itália, a Bélgica.

A instituição financeira Fjordbank Mors declarou-se insolvente e acções da banca dinamarquesa estão a ir ao fundo.

Foi a nona falência no sector financeiro dinamarquês desde o início da crise financeira em 2008. O Fjordbank Mors declarou no final da semana passada que era incapaz de cumprir as regras de solvabilidade do regulador do país, o que lançou uma onda de quedas nos bancos cotados na bolsa de Copenhaga.

O Fjordbank Mors está agora nas mãos do Estado, sendo que os detentores de obrigações e os depositantes que tenham mais de 100 mil euros na instituição enfrentam prejuízos. Isto porque a Dinamarca abriu um precedente na União Europeia que coloca os obrigacionistas de bancos falidos a suportar as perdas provocadas por eventuais falências.

 É muito provável que algo esteja podre no reino da Dinamarca, que este é um filme já há muito em exibição e a pergunta se solta é esta:

Ninguém repara? Ninguém quer reparar?

2.
Um especialista na matéria fez tese de que a “silly season” começa a 25 de Julho.

Em matéria governamental, a estação estúpida começou ontem.

Marcelo Rebelo de Sousa, o entertainer dos domingos à noite da TVI declarou, solenemente, que um administrador da TVI ia para Secretário de Estado do governo.

A estação televisiva emitiu mesmo um comunicado à anunciar, à CMVM,  a saída de Bernardo Bairrão.

Mas soube-se hoje que o nome de Bernardo Bairrão “caiu” da lista de secretários de Estado apresentada pelo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, ao Presidente da República.

Desconhecem-se os motivos.
Bernardo Bairrão era o homem-forte da estação de Queluz de Baixo, que suspendeu o "Jornal Nacional de 6ª", então apresentado por Manuela Moura Guedes, e que recusou a qualquer interferência política do então Governo Sócrates no fim desse noticiário.

Quem tramou Bairrão?

ASSIM COMO UMA EXCEPÇÃO...


 “Um truque para não ter medo: em criança, Manuel António Pina apontava pesadelos para iludir o escuro. Agora escreve poemas.”

O jornalista, no findar da conversa:

“Já entrevistei alguns amigos e, no papel, trato-os sempre por você. Mas estou tentado a abrir uma excepção, porque talvez seja preferível que se perceba que estás a falar com alguém que conheces.

Acho bem, faz como o Groucho Marx: “Nunca me esqueço de um rosto, mas vou abrir uma excepção para o seu.”

OS CROMOS DO BOTECO

IDÍLIO EM BICICLETA



“Laguna, ainda nos Andes.
Olhem para mim, lá porque sou pequena, posso ser bela…”

Texto e imagem de Idílio Freire

O ÚLTIMO JOGO NA VELHA LUZ




Já aqui fiz referência ao último clássico jogado no antigo Estádio da Luz.
Este é o bilhete do último jogo que se realizou no dia 22 de Março de 2003.
A partir desta data o Benfica passou a jogar no Estádio Nacional até à construção da Catedral.
O Benfica ganhou por um a zero ao Santa Clara, golo de Simão Sabrosa de grande penalidade.
Nesta época o Santa Clara desceria `Divisão de Honra.
Na equipa que alinhou neste último jogo apenas restam o Moreira e o Nuno Gomes, sabendo-se já que está de saída do clube.

domingo, 26 de junho de 2011

VAGUEANDO PELA CIDADE


Lisboa, domingo de manhã, frente ao “Martinho da Arcada”.

NATUREZA MORTA COM MARX


As mulheres que traziam a fruta nos cestos, e
os pousavam no chão de pedra, em frente das casas,
para que as senhoras a pudessem escolher, só
sabiam o que era a luta de classes quando ouviam
discutir os preços que elas davam, e ou baixavam
ou não vendiam. Mas quando voltavam para o campo,
com os cestos mais do que vazios, pensavam noutras
coisas: no que as esperava nas casas onde
a doença entrava com o inverno, e no que poderia
acontecer se não chovesse, e as árvores secassem
de um ano para o outro. Nas casas das senhoras,
porém, o cesto de fruta, em cima da mesa,
não fala destas coisas. E quando alguém ia tirar
as uvas, para as provar, o sabor nada tinha de amargo,
a não ser que, num breve instante, a imagem
das mãos que as apanharam, naquela madrugada,
não voltasse a trazer a ideia de luta
de classes para dentro do cesto.


Nuno Júdice

MATINÉ DAS 3

Realizador Gerge Stevens, 1941
Cary Grant, Irene Dunne, Beulah Bondi

"Enquanto a Julie se prepara para abandonar o seu marido Roger, começa a tocar um monte de discos, cada um fá-la lembrar-se de momentos das suas vidas juntos. Um deles é a canção que ela ouviu quando conheceu o Roger numa discoteca. Outras, do namoro, do casamento, do desejo por um filho, e os desgostos e alegrias que partilharam. Muitas memórias que a fazem pensar como chegaram a este ponto."

OS CROMOS DO BOTECO

POSTAIS SEM SELO





“Qual foi o tempo meu de estar comigo?

Carlos Wallenstein

sábado, 25 de junho de 2011

JANELA DO DIA


Como sou suspeito, suspeitíssimo mesmo, num qualquer apoio a este governo, seja levado a  ver as coisas basto distorcidas, mas a ideia que ressalta é que as coisas não estão a começar nada bem,,,

Primeiro a rábula da pseudo eleição de Fernando Nobre para presidente da Assembleia da República, de imediato remediada com a feliz eleição de Assunção Esteves, depois, no meio do discurso de tomada de posse do governo, Pedro Passos Coelho a anunciar que o novo Governo não irá nomear novos governadores, como "exemplo de rigor e contenção", mas parece que a coisa não pode bem ser assim, o cargo pode ser inútil mas não são essas despesas que abalam a nação, entretanto, um qualquer rapaz apressado manou colocar nos jornais que o primeiro-ministro como “exemplo de rigor e contenção” passará a viajar em classe económica, em vez da executiva, um certo populismo que cai bem nas gentes dos subúrbios mas com a TAP a estragar tudo dizendo que os membros do Governo não pagam bilhete na TAP quando viajam em serviço donde o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, não poupou dinheiro ao Estado com a sua opção de viajar esta semana para Bruxelas em classe económica.

Soube-se hoje que a privatização da RTP fica para as calendas porque o CDS, num começo de birra, não está de acordo, quando se sabe que as privatizações fazem parte do programa da troika.

Mas o que eu queria saber, e já pr’amanhã! é o que o novo governo pensa sobre o caso do BPN onde já estão enterrados os milhões e milhões de euros e em que os autores desse crime ainda não foram julgados, nem condenados, nem severamente punidos.

Alguma vez o serão?
Entretanto, para compor o ramalhete, essa ridículo jongleur, que dá pelo nome de
Medina Carreira, continua a não tomar os comprimidos, e disse ontem ao “I” que "Salazar foi um bom gestor. Era bom termos hoje um bom gestor"

Ah” e o ministro da Economia, regressado do Canadá com a família, já disse qualquer coisinha:

"A seu tempo falaremos, é óbvio que todos sabemos que vêm aí tempos difíceis.”

Volto ao princípio, à estranha sensação-quase-certeza que nada está a correr bem.

A vaga de calor vai continuar e as noites brancas avançam a galope…


Legenda: Imagem de Idílio Freire

É PERMITIDO AFIXAR ANÚNCIOS


“Ela” de Jean Genet
Teatro da Cornucópia
Encenação de Luis Miguel Cintra
De 16 de Junho a 24 de Julho no “Teatro do Bairro Alto”

“Mas, oiça, quando você diz que não é ela que você vê quando os seus olhos a vêem, ou que não são os seus olhos quando é ela, tem a certeza que são os passos dela que os seus ouvidos estão a ouvir?”

Jean Genet

O QU'É QUE VAI NO PIOLHO?


O despedimento em curso de trabalhadores nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo,
fez-me lembrar “Segundas ao Sol”, um filme de 2002 realizado, em 2002, por Fernando Léon Aranoa.

O filme gira à volta do despedimento colectivo nuns estaleiros em Gijon. Um grupo de trabalhadores completamente perdidos, reúnem-se ao sol das segundas-feiras, para beber uns copos, dizer uma larachas, entabular conversas sem nexo, olhares perdidos no vazio.

Para ajudar uma amiga, por uma noite, a ganhar umas pesetas, Santa faz de “baby-sitter” e cumpre a tarefa lendo à criança a fábula da cigarra e da formiga.

 “Era uma vez um sítio em que viviam uma cigarra e uma formiga.”
(Santa, olhou para a criança procurando a sua aprovação. O pequeno acenou que sim.)
“A formiga era muito trabalhadora e a cigarra, não: gostava de cantar e de dormir enquanto a formiga trabalhava. Passou-se algum tempo. A formiga trabalhou o Verão inteiro, amealhou o mais que pôde e quando chegou o Inverno, a cigarra morria de fome e frio, ao passo que à formiga nada faltava. ”
- Filha da puta da formiga! comentário de Santa para a criança.
“A cigarra bateu à porta da formiga que lhe disse: - Cigarrita, cigarrita, se tivesses trabalhado como eu, não terias fome nem frio - e não lhe abriu a porta.
(Fechou o livro)
- Quem escreveu isto?! (abriu o livro e folheou-o) Não é nada assim. A formiga é uma fila da puta especuladora e além disso o que aqui não diz, é que alguns nascem cigarras e outras formigas. E quem nasce cigarra, está fodido. Disso não falam eles… Disso não falam eles.”

Um outro dia, no tasco, Amador diz a Santa:

“ A questão não está se nós acreditamos em Deus. A questão é se Deus acredita em nós. Em mim, estou certo que Ele não acredita. Em ti tão pouco, Santa.”

Quase no final do filme, Serguei, um trabalhador-imigrante russo, conta, para Santa e os outros, uma história:

“Dois camaradas velhos do Partido Comunista encontram-se. Um diz ao outro:
- “Já viste? Tudo o que nos contaram sobre o comunismo é mentira.”
O outro responde:
“Isso não é o pior. O pior é que o que nos contaram sobre o capitalismo é verdade!”

IDÍLIO EM BICICLETA





“Das gargantas fechadas do vale, apenas se avista o céu azul, lá bem no alto, e as encostas rochosas das falésias que se erguem até o tocarem. Nada existe para além do colorido descolorido das montanhas; nada existe para além do ruído do Chuquicara; nada existe para além do estreito vale, onde apenas cabe o rio e a estrada, lado a lado. É uma prisão, um labirinto do qual não se sai e que não se sabe onde leva. São escassos os carros, autocarros ou pequenos camiões com que partilhamos a estrada. É abundante a imensidão infinita da desoladora paisagem…

Entrada para o inferno, para onde se entra morto e de onde se sai sem vida…

São mineiros, que morrem vivendo no carvão. E escassas centenas de metros adiante, estão dois camiões com semi-reboque a carregar carvão. Impressionante é aqueles mastodontes estarem a ser carregados por dois homens a… carrinho de mão e à pazada! Ambos envoltos no pó negro do carvão, ambos curvados com a cara sobre o monte de carvão, ambos sem qualquer máscara ou protecção, pazada após pazada, carrinho de mão após carrinho de mão, para encher dois camiões com semi-reboque…homens esquecidos dos homens; “homens esquecidos de deus”; deus esquecidos dos seus homens… só penso no “regresso da casa dos mortos” e na abundância de morte em vida que vai desfilando em cada esquina, cada beco, cada cume, cada vale, dos Andes – e para além e aquém deles.

No último troço da estrada, sucedem-se 35 túneis. A aventura inesquecível, irreal, assustadora às vezes, sentida até aos ossos, até ao tutano, até à raiz dos cabelos…”

Texto e imagens de Idílio Freire

sexta-feira, 24 de junho de 2011

JANELA DO DIA


Encontros em Bruxelas.

O primeiro-ministro grego, George Papandreou, garantiu em Bruxelas, que a Grécia está “fortemente empenhada” em avançar com o seu programa de austeridade que garanta a viabilidade económica do país.

O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho garantiu em Bruxelas que irá cumprir o programa da troika e garante que tomará outras medidas que não estavam previstas no programa.

Aproximam-se as noites brancas.

PETER FALK (1927-2011)


Soube-se hoje que o actor Peter Falk morreu na quinta-feira à noite na sua casa em Beverly Hills.

Aquele desmazelado inspector da Polícia de Los Angeles, uma gabardine mais que sebenta, zanaga de todo, cigarro ao canto da boca, quase sempre a citar algo que a mulher lhe disso ao sair de casa para o trabalho.
A série televisiva chamava-se “Colombo” e, em finais dos anos 60 foi êxito um pouco por todo o mundo.

Ainda Peter Falk, a fazer de Peter Falk ,nesse estranho “As Asas do Desejo”, fábula filmada por Wim Wenders antes da queda do muro de Berlim.

Tinha 83 anos e já há algum tempo que sofria de Alzheimer.

“Eu sei agora o que nenhum anjo sabe.”

Legenda: Pter Falk a fazer de Peter Falk em “As Asas do Desejo”, 1987, realizado por
Wim Wenders.

O SENHOR ÁGUAS


Creio já ter dito por aqui que há muito que não leio um romance de António Lobo Antunes”, motivos vários, incapacidades minhas, mas sou um leitor ávido das suas crónicas.

Diga-se que, por alturas da Feira do Livro, saiu o 4º volume das “Crónicas” de António Lobo Antunes.

Esta bonita crónica de António Lobo Antunes foi publicada na “Visão” de 16 de Junho e constitui o prefácio que Lobo Antunes escreveu para “O Meu Pai Herói”, biografia escrita pela filha, Lena d’Água e publicada pela “Oficina do Livro”.

A imagem que encima o texto, é o bilhete da Festa de Homenagem a José Águas, realizada no Estádio da Luz no dia 5 de Setembro de 1963.

José Águas é uma dos heróis da minha infância e não poderia faltar. 

O Benfica ganhou ao Porto por 3 a 2, mas o resultado é o que menos importa.

“Há mais de trinta anos que não assisto a um jogo de futebol. Não conheço os estádios novos, vejo, às vezes, um bocadinho na televisão. Mas entre os dez e os vinte anos não falhava um jogo do Benfica. E não falhei enquanto Águas jogou. Claro que não era apenas Águas: era Costa Pereira, Germano, Ângelo, Simões, Eusébio, Cavém, o grande Mário Esteves Coluna que Otto Glória considerava o melhor jogador português, outros mais artistas que jogadores, como José Augusto, por exemplo, a todos estou grato pela beleza e a alegria que me deram, porém nunca admirei tanto um atleta como admirei José Águas. Para quê, portanto, ir ao futebol se ele já não se encontra no estádio? Era a elegância, a inteligência, a integridade, o talento, e ao pensar em escrever o meu desejo era ser o Águas da literatura. Vi Pelé, Didi, Nilton Santos, Puskas, Di Stefano, Santamaria, tantos outros génios, no tempo em que o futebol não era ainda uma indústria nem os jogadores funcionários competentes, comandados por esse horror a que chamam técnicos: era pura criação, uma actividade eufórica, uma magia cinzelada, uma nascente de prazer, uma inspiração, um entusiasmo. Águas foi tudo isso e, muito novo, ganhou o respeito dos colegas, dos adversários, dos jornalistas da época, que os havia de grande qualidade, Carlos Pinhão, Carlos Miranda, Aurélio Márcio, Homero Serpa, tantos outros. Não jogava futebol: criava futebol, respirava futebol, inventava futebol, e teria sido um privilégio para mim conhecê-lo. Não para falar com ele, para o ouvir. A sua beleza física invulgar distinguia-o de todos os outros, a forma de se mover em campo era única, a autoridade sobre os companheiros natural e humilde. Os miúdos que iam comigo à bola chamavam-lhe senhor Águas, sem sonharem que era desse modo que Simões e Eusébio o tratavam, como tratavam Coluna. Senhor Águas, senhor Coluna. Reconhecíamo-lo, do alto do terceiro anel, no estádio de então, onde, de tão longe, os jogadores minúsculos, pelo modo de correr, se deslocar no campo, passar, rematar, reconhecíamo-lo pelos seus golpes de cabeça, inimitáveis, pelo sentido da ocupação do espaço, pela simplificada geometria do seu futebol. Não tinha a garra de Ângelo ou Cavém, a força de Coluna, o gigantesco talento de Eusébio, o poder do drible de Simões, a velocidade de José Augusto: era uma espécie de rei sereno e eficaz, um aristocrata perfeito. Até a andar os olhos ficavam presos nele, na harmonia dos gestos, no modo de ajeitar bola, e eu, criança de dez anos ou adolescente de quinze, pensava tenho de trabalhar mais esta página, ainda não chego aos calcanhares de José Águas. Escrever como ele jogava, com a mesma subtileza e a mesma eficácia. Escrever como a equipa do Benfica, umas vezes à Ângelo, outras à Germano, outras à Coluna, e finalizar à Águas. Nunca deve ter ouvido falar em mim nem podia adivinhar que um garoto qualquer o tomava não apenas como mestre de futebol mas como mestre de escrita. Só, mais tarde, certos saxofonistas de jazz, Bird, Coltrane, Webster, Coleman, Hodges, alguns mais, tiveram, sobre o meu trabalho, influência semelhante. Mas Águas foi o meu primeiro e indisputado professor: escreve como ele joga, meu estúpido, aprende a escrever como ele jogava. Como morava em Benfica via-o, às vezes, no autocarro do clube e ficava, pasmado de admiração, a fitá-lo. Isto lembra-me o meu irmão Nuno chegando a casa de dedo no ar

- Toquei no Eusébio, toquei no Eusébio

como provavelmente, eu o faria, porque na infância e na adolescência o futebol era, para além de uma aprendizagem do mundo, um prazer infinito. A cor dos equipamentos

(o meu amigo Artur Semedo:

- Não sou um homem às riscas, sou homem de uma cor só)

a entrada em campo, o hino, tudo isto me exaltava e fazia feliz. E as vitórias, comemoradas em Benfica com bebedeiras eufóricas. Uma das minhas glórias secretas, confesso-o agora, consiste em ter visto a fotografia do meu pai no balneário do hóquei em patins do Benfica, de ele ter estado no Campeonato da Europa de 1936, em Estugarda, com vinte ou vinte e um anos, e de brincarmos com uma caixa de lata cheia de medalhas, a que o meu pai não dava importância alguma e eu considerava inestimáveis. Há pouco, a minha mãe

- O que faço eu a isto?

exibindo-me uma espécie de troféu ou de placas num estojo, que alguns anos antes de morrer a Federação de Patinagem lhe entregou, juntamente com outras antigas glórias, e que me recordo de o meu pai, que não saía, ir receber com satisfação secreta. Mas, claro, eu era só filho do Lobo Antunes, não era filho do Águas, e ainda sei medir as distâncias. Portanto, o que vou eu fazer a um campo de futebol se ele já não joga? Seguir os funcionários competentes de um negócio? Assistir ao bailado dos técnicos? Ver a fantasia substituída pela sofreguidão, a ambição pela avidez, o amor ao clube pela violência idiota? Claro que continuo a querer que o Benfica ganhe. Claro que sou, como em tudo o resto, parcial, sectário, por vezes sem bom senso algum. Mas há séculos que não sofro com as derrotas e, sobretudo, não choro lágrimas sinceras com elas: estou-me nas tintas. Contudo voltaria a trotar, radiante, para assistir à entrada em campo de Costa Pereira, Mário João, Germano, Ângelo, Cavém, Cruz, José Augusto, Eusébio, Águas, Coluna e Simões, a agradecer-lhes o facto de me terem, durante anos e anos, colorido a existência. E talvez no fim do jogo, postado junto ao autocarro, quando os jogadores saíssem do balneário, o senhor Águas me apertasse a mão.”

DIA DE FESTA


Sábado é Dia De Festa.
Vamos com os netos à Cinemateca Júnior ver o “Yellow Submarine” dos Beatles.
Copiado do Programa da Cinemateca.

YELLOW SUBMARINE
O Submarino Amarelo
de George Dunning
Grã-Bretanha, 1968 – 90 min / legendado em português

Nos anos 60, muitos viveram num submarino amarelo… Neste célebre filme de animação, os Beatles fazem uma viagem de submarino rumo a Pepperland, para trazer a alegria de volta àquelas terras. Assumem a falsa identidade de The Sargeant Pepper’s Club Band. Uma viagem que é mesmo uma “viagem”, uma autêntica trip, num mundo visual ultra-típico dos anos 60. Entre as canções do filme: Yellow Submarine, All You Need is Love, When I’m Sixty-Four, Lucy in the Sky
With Diamonds.

Sábado, dia 25 de Junho no Palácio Foz aos Restauradores.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

JANELA DO DIA


O presidente do Conselho de Administração dos Estaleiros Navais  de Viana do Castelo viaja  amanhã até Lisboa para a para apresentar a sua demissão ao Ministro da Defesa.

Ao abrigo de um estranho processo de reestruturação dos estaleiros, 340 trabalhadores, dos 782 que a empresa possui, vão para o desemprego.

A indústria naval é um sector delicado da economia, que necessita, que, à frente dos seus destinos, esteja gente competente e conhecedora do sector.

Esta gente que agora se demite, sabia tanto de indústria naval como qualquer vulgar cidadão, ou seja: NADA!

Esta gente que agora se demite, foi colocada naquelas cadeiras para dar cumprimento a esse velho e costumado vício que dá pelo nome de “jobs for the boys”.

Esta gente que agora se demite, sairá com os seus ordenados em dia, as respectivas indemnizações, possivelmente um qualquer prémio por não se sabe bem o quê, e irão regressar à secretária donde saíram para irem para ali exibir a sua vaidade, receber mordomias.

Os trabalhadores agora despedidos, começarão o calvário dramático do desemprego, uma das sensações mais dramáticas que se pode experimentar.

Quando lemos que alguns trabalhadores dos estaleiros tentaram agredir os administradores, sentados no maple em casa, não podemos ter o desejo fácil de criticar mas olhar, tentar perceber, o desespero que começam a enfrentar, teremos que não condenar facilmente e olhar para o seu drama, porque só quem nunca ficou desempregado pode ignorar uma situação destas.

O Sr, Bispo de Viana do Castelo vai reunir amanhã com o que resta  da administração dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, diz ele,  para abordar a necessidade de apoio aos 380 trabalhadores despedidos.

"O que podemos fazer é acolher essas pessoas e ajudá-las, e ao mesmo tempo pedir a Deus que a empresa não feche porque é fundamental para a cidade, para o distrito e para o país", salientou D. Anacleto Oliveira.

Num país tradicionalmente católico, Deus é sempre chamado para resolver qualquer problema e até hoje com resultados nulos.

Quando chegará o dia em que a incompetência, a corrupção serão averiguadas, julgadas e castigadas?

E isso estará nas mãos dos homens e não de um qualquer Deus,

 Para quando a chegada de  um outro dia das surpresas?

UMA MINA DE OURO



Marilyn Monroe.
O Pecado Mora ao Lado.
Não é apenas das cenas mais carismáticas do cinema.
Soube-se agora que o vestido que Marilyn Monroe usou para esta cena,
foi vendido, por 3,2 milhões de euros, num leilão com peças de Hollywood, em Calabasas, na Califórnia.

O PRESTÍGIO DA AR


A crónica de Manuel António Pina no “Jornal de Notícias” de hoje:

“Foi um "pedido" público e chegou-me, através da SIC Notícias, pela voz de Guilherme Silva, vice-presidente da AR, com quem não estou há 40 anos. Mais do que um "pedido", foi antes um apelo, dirigido não só a mim mas a mais cronistas de imprensa, no sentido de não contribuírem para o desprestígio do Parlamento.

Mas quem, em primeiro lugar, tem de fazer pelo seu prestígio é a própria AR. De facto, o descrédito da AR junto dos portugueses resulta, não dos jornais, mas, desde logo, do descrédito dos próprios partidos (sobre o qual existem estudos e sondagens q.b., designadamente a "sondagem" que os números sempre crescentes da abstenção constituem). E, depois, de coisas como a qualidade dos deputados, muitos deles "yes men" sem espírito crítico nem vontade própria, ou regras partidárias que põem em causa a função de representação e autonomia parlamentares, como o uso e abuso da disciplina de voto, que reduz a maioria dos debates na AR a um mero e inútil formalismo.

O que se passou no início da nova legislatura com a rejeição, autónoma e livre (enfim, ou mais ou menos...) pelos deputados de uma candidatura contranatura à presidência da AR e a escolha para o cargo de alguém com o prestígio de Assunção Esteves, foi, por isso, algo capaz de contribuir para o crédito da AR mais do que mil apelos públicos.
A AR ganhou pontos junto dos portugueses. Esperemos que não os desbarate na primeira oportunidade.”

OS CROMOS DO BOTECO




“Vamos brindar com vinho verde

Que é do meu Portugal

E o vinho verde me fará recordar

A aldeia branca que deixei atrás do mar.”

POSTAIS SEM SELO


Agora eu sabia que em cada manh
Nasceria o sol atrás dos teus ombros”

Pedro Tamem

Legenda: pintura de Joni Mitchell, contracapa do álbum "Both Sides Now"

quarta-feira, 22 de junho de 2011

POSTAIS SEM SELO


O caminho-de-ferro ocupou uma posição relevante nos meus sonhos de criança. Lembro-me de que o que mais me fascinava era a figura do maquinista, um dos heróis da minha meninice, pelo alto nível do sentido de responsabilidade que a sua profissão exige.

José Saramago de uma entrevista a O Ferroviário

OS CLÁSSICOS DO MEU PAI

O meu pai gostava de valsas.

Era um tremendo pé de chumbo, mas gostava de ver dançar.

O ano em que os Concertos de Ano Novo, tansmitidos de Viena, passaram a incluir bailado, o meu pai desenhou um enorme ar de satisfação.

Lá por casa não houve um único LP de valsas.

Diga-se que a colheita de LPs , que aparecia na Lisboa daqueles tempos, não era vasta nem variada.

Mas existiam diversos EPs de valsas, a maioria, obviamente, valsas de Johann Strauss.

Dos que chegaram até aos dias de hoje escolhi este, da Orquestra de Béla Sanders, da etiqueta “Telefunken”, para que se possa medir o quanto antigo ele é.

Também porque gosto muito da capa.

Diga-se, que este EP apenas tem uma peça de Strauss, as outras são de Lehár, Meisel e J.T.Hall.

IDÍLIO EM BICICLETA




“Quando escolhemos os Andes como destino e a estrada N3 como rota, estava longe de imaginar quão remoto seria o trajecto, quão agressiva seria a estrada, quão acentuadas e frequentes seriam os declives, quão modestos seriam os alojamentos e restaurantes. Claro que esperava paisagens grandiosas e dificuldades tremendas, pobreza chocante e rudeza contínua. Mas os Andes são inimagináveis, trespassam-nos os olhos, o coração e os sentidos. Anulam tudo o que transportamos, todos os conceitos e preconceitos, impondo uma nova ordem, uma nova escala…”

Texto e imagens de Idílio Freire

terça-feira, 21 de junho de 2011

JANELA DO DIA


1.
 Assunção Esteves foi eleita para a Presidência da Assembleia da República sendo a primeira mulher a assumir o cargo que é também o de segunda figura do estado.

Independentemente do partido que a apontou para o cargo, é bom saber que se trata de uma mulher culta e inteligente, factores que provocam o prazer de quem anda por aqui, diariamente, a aturar tipos baços, incultos e boçais.

Essa gente sábia, em que os jornalistas de hoje se transformaram, apontava Guilherme Silva e Mota Amaral como prováveis candidatos ao cargo, mas um qualquer golpe de asa, possibilitou a indicação de Assunção Esteves e, a insensatez e imprudência de Pedro Passos Coelho ao aceitar a chantagem de Fernando Nobre, puderam ter algum simulacro de esbatimento.

Impossível não rasgar um sorriso de contentamento e lembrar Jean Ferrat que, citando Aragon, cantou que a mulher é o futuro do homem.

2.
Tomou hoje posse o novo governo que vai tentar cumprir o programa da troika.

Ainda antes de o ser, Vitor Gaspar, novo ministro das Finanças, reuniu-se de manhã com os três chefes da missão da troika que tem vindo a negociar o empréstimo de 78 mil milhões de euros concedido a Portugal.

Assim como tomar o pulso para que nada, mesmo nada, que nos vai dar cabo da vida, possa ser esquecido.

3.
Desculpem a nota pessoal que se segue:

O governo de José Sócrates não era o meu governo, mas como governo eleito pelos portugueses, que são sábios, tive que o aguentar.

Muito menos este governo de Pedro Passos Coelho será o meu governo, mas como
governo eleito pelos portugueses, que são sábios, terei que o aguentar.

O governo de José Sócrates tinha um ministro, Pedro Silva Pereira, que me deixava à beira de um ataque de nervos.

O governo de Pedro Passos Coelho terá um ministro, Miguel Relvas, que vai fazer com que continue à beira de um ataque de nervos.

Ambos são palavrosos, donos de um discurso redondo, manhoso, hipócrita e obsoleto.

Ambos são donos de um sorriso-de-não-sei-bem-o-quê.

Decididamente não tenho descanso…