Muito cedo compreendi que não há livros para ou de férias.
Ou se gosta de ler, e fazemo-lo todos os dias como quem bebe
água, ou o resto não são mais que balelas.
Mas tenho que dizer que durante muitos anos, a minha bagagem
de férias incluía sempre Cem Anos de Solidão de GabrielGarcía Márquez.
E sempre renovei a beleza, o espanto de nele (re)encontrar
coisas novas.
Nelson Rodrigues disse um dia que deve-se ler pouco e reler muito.
Há uns poucos livros totais, três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem.
É preciso relê-los, sempre e sempre, com obtusa pertinácia. E, no entanto, o
leitor se desgasta, se esvai, em milhares de livros mais áridos do que três
desertos.
Estas palavras assentam em Cem Anos de Solidão, um
livro mágico, um livro que me marcou para lá do imaginável.
Não há um livro da nossa vida porque num correr de tempo
temos muitas vidas.
Mas se pudesse escolher uma vida, nela acabaria por
encontrar Cem Anos de Solidão.
Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel
Aureliano Buendia havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou
para conhecer o gelo. Macondo era então uma aldeia de vinte casas de barro e
taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam
por um leito de pedras polidas, brancas, brancas e enormes como ovos pré-históricos. O mundo era
tão recente que muitas coisas careciam de nome e para mencioná-las era preciso
apontar com o dedo.
Disse Fernando Pessoa que a morte é apenas deixarmos de ser
vistos.
Assim é.
Gabriel García Márquez morreu aos 87anos e não poucas vezes
se terá lembrado, nestes últimos meses, que as mortes são sempre anunciadas.
Apenas isso.
Os seus livros caminharão sempre a nosso lado.
Gostava de rosas amarelas e nunca se preocupou que o mundo
soubesse que era amigo de Fidel de Castro.
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