Adriano e as tuas
canções com lágrimas para os homens que na redoma de vidro se quedam tristes e
impávidos. Como se nada ao lado estivesse a acontecer. Apenas olhos para o
supérfluo, o medíocre, o inútil.
Adriano e aqueles
em que aprendeste e os que te seguiram sabendo que o importante é o que,
cantando, se diz, tu que cantas para todos cujo nome é terra e a têm desenhado
na palma da mão, tu que andas dentro das palavras dizendo-nos numa voz velada
que é impossível amar serenamente com tantos amigos na prisão, porque a gente
vê, ouve e lê.
Disseste-nos com as
tuas canções que o homem que vive só não vive bem, tu que estás em tudo o que
circula e tem o preço do nosso sangue, tu que vens da terra assombrada do
ventre de todas as mães para dizeres que não pode haver medo, que o pensamento
é como o vento e ninguém o pode amarrar, que os homens não findam, que cantar
não é uma acto gratuito e que tudo só morrerá quando os ventres das mulheres da
cidade não nos derem filhos para os invernos tristes.
Adriano, o teu
canto maravilhoso que fala do trabalho explorado dos homens sobre a terra e da
sua luta, nós caminheiros com sol nas espáduas acreditando que em multidão
somos maiores, fazendo do teu-nosso canto o sangue que nos corre nas veias, o
sangue e a voz dos poetas, as palavras que gostávamos que fossem nossas e que
acabam por o ser de tanto as sentirmos e amarmos.
Contigo, Adriano,
nascemos de novo, ouvimos-te e ficamos com uma vontade enorme de fazer coisas,
pequenas que sejam.
Mas como poderemos
ficar sossegados e calmos perante as notícias, nós que bem no lá no fundo
gostamos de ter amos?
Adriano, o que nos
dizes é muito mas não suficiente. Dás o fósforo mas o fogo não irrompe. Há que
largar pela noite fora mas nenhuma moira encantada virará a proa da nossa
barca. Seremos nós que a temos de virar
Mas como, Adriano?
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