25 de Abril de 1974
Dezassete horas e 45 minutos bastaram para derrubar uma ditadura que durou 47 anos, 10 meses, 34 dias e algumas horas.
A Assembleia Nacional abriu portas mas, por falta de quorom,
não houve plenário.
O presidente, Engª Amaral Neto, sabedor (?) do que estava a acontecer no país, mas, possivelmente acreditando num qualquer milagre, marcou sessão para o dia seguinte, à hora regimental.
O presidente, Engª Amaral Neto, sabedor (?) do que estava a acontecer no país, mas, possivelmente acreditando num qualquer milagre, marcou sessão para o dia seguinte, à hora regimental.
Texto lido num jornal de que não encontro o nome, nem o autor:
Massacravam-nos os ouvidos com
afirmações de coragem.
Diziam que, se alguma vez o chamado estado Novo corresse perigo. Iriam
dar tiros para a rua.
Afirmavam-se prontos a morrer.
Juravam, rejuravam e trejuravam que o Povo só chegaria ao poder
passando por cima dos seus cadáveres.
Gritavam aos quatro ventos que iriam vender cara a vida.
Consideravam-se soldados de uma guerra gloriosa.
Não perdiam uma ocasião de proclamar o desejo que tinham de provar a
sua fidelidade vertendo, para tal o seu próprio sangue.
Arrotavam postas de valentia.
As suas permanentes gabarolices, infantis e monocórdicas, tinha-nos
levado a crer que, no dia da mudança, iriam fazer qualquer coisa.
Dar um grito, por exemplo – um grito, um suspiro, um soluço.
Mas nem isso.
No dia vinte e cinco de Abril, os heróis do palavreado não cumpriram
uma única das promessas que tinham feito.
Perderam o pio.
Miguel Torga escreveu no seu Diário:
Golpe militar. Assim eu acreditasse nos militares. Foram eles que,
durante os últimos macerados cinquenta anos pátrios, nos prenderam, nos
censuraram, nos apreenderam e asseguraram com as baionetas o poder à tirania.
Quem poderá esquecê-lo? Mas, pronto: de qualquer maneira, é um passo. Oxalá não
seja duradoiramente de parada…
Quando os portugueses souberam que, durante a madrugada, as
Forças Armadas, desencadearam uma série de acções com vista à libertação do
país, do regime que há longo tempo o domina, já os matutinos tinham as
suas edições fechadas.
Só em segundas e terceiras tiragens, tanto O
Século como o Diário de Notícias, deram os
primeiros flashs do que estava a acontecer.
Às 5,30 Horas O Século publica uma 2ª edição em
que coloca no canto superior direito: Ocupadas por militares algumas estações emissoras,
remetendo para Últimas Notícias. em que pouco ou nada adiantam e ainda
mantiveram a notícia da visita, ocorrida na véspera, do Chefe de Estado Tomás ao Salão de Antiguidades.
Apenas numa 3ª edição, saída para rua às 11 horas, colocam
em título a toda a largura da 1ª página: Movimento das Forças Armadas desencadeou uma
acção militar para deposição do regime político e colocam esta abertura
a quatro colunas:
O clima de inquietação política que mais acentuadamente vinha a
patentear-se desde a segunda quinzena de Dezembro, e que a partir da última
semana de Fevereiro ganhara iniludíveis aspectos de crise, pondo em causa a
própria estabilidade do regime, culminou esta madrugada com o desencadear de
uma acção militar que de imediato proclamou o propósito de promover a deposição
da situação política vigente no País.
Uma 2ª tiragem do Diário de Notícias dedica toda a 1ª
página aos acontecimentos: Às primeiras horas da madrugada de hoje
eclodiu um movimento militar.
Outros destaques da 1ª página, mostravam que se desconhecia
onde se encontravam o Chefe de Estado e o Presidente do Conselho e que o General
Spínola não achou oportuno falar ao «Diário de Notícias».
Na página de espectáculos o anúncio da estreia às 23,45
Horas, no cinema Londres, do filme de Alain Resnais, Hiroshima Meu Amor,
largamente retalhado pela censura e classificado para maiores de 18 anos.
No Maria Vitória estava em
representação a revista Ver, Ouvir e Calar com Ivone Silva,
Salvador, Mariema e Barroso Lopes.
Na 4ª página, fotografia a três colunas com a notícia de
que, nascidos na segunda-feira, cisnes bebés eram presentemente a maior
atracção da Avenida da Liberdade (lago oriental.
Ma 13ª página a crónica, assinada por Guido Carvalho dando
conta da derrota Sporting no jogo com o Magdeburgo e que finalizava deste modo:
Na página 13 uma notícia, sem designação de publicidade qua
ainda não se usava, dando conta que o Centro Comercial Imaviz iniciava a
sua fase de arranque com a presença, vindo directamente de Nova Iorque do
arquitecto Adolph Novak.
Os jornais da tarde, apesar de trazerem mais notícias sobre
o Movimento
dos Capitães, mantêm as edições que já estavam paginadas.
No Diário de Lisboa Mário Castrim
titula a sua crónica: O sol é bom, as mulheres vestem bem
e o mais que adiante se verá...
Legenda da fotografia:
A meio da manhã, na Rua do Arsenal, frente a frente forças leaiss ao
governo e forças revolucionários.Legenda: Capa da 1ª edição do República de 25 de Abril de 1974.
Em rodapé: ESTE JORNAL NÂO FOI VISADO POR QUALQUER COMISSÃO DE CENSURA
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