Os Arquivos do Silêncio
Egito Gonçalves
Prefácio: Óscar Lopes
Colecção Poetas de Hoje nº 10
Portugália Editora, Lisboa, Setembro de 1963
MORTE NO
INTERROGATÓRIO
Às três da madrugada eu dormia sem sonhos.
Minha mulher dormia a meu lado. Eu tinha
uma das mãos pousada sobre a sua coxa.
Minha mulher dormia a meu lado. Eu tinha
uma das mãos pousada sobre a sua coxa.
Uma lua de outono
brilhava sobre as ruas;
um ar agreste preparava as noites para o inverno.
um ar agreste preparava as noites para o inverno.
Às três da madrugada os companheiros
dormiam quase todos. Um deles, porém,
regressava, fatigado, de um trabalho nocturno.
dormiam quase todos. Um deles, porém,
regressava, fatigado, de um trabalho nocturno.
Era a hora dos
fogos-fátuos sobre as campas;
a hora em que os exilados buscam o sono em comprimidos.
a hora em que os exilados buscam o sono em comprimidos.
Às três da madrugada sua mulher ainda velava.
Embrulhada num xaile tinha um livro entre as mãos;
insone, acendera a luz havia meia hora.
Embrulhada num xaile tinha um livro entre as mãos;
insone, acendera a luz havia meia hora.
Na sala o
interrogatório atravessava o tempo;
lâmpadas de mil vátios tornavam a vida irrespirável.
lâmpadas de mil vátios tornavam a vida irrespirável.
Às três da madrugada o coração fraquejou
e os dois comissários ficaram perante um homem morto
e dois cinzeiros com trinta pontas de cigarros.
e os dois comissários ficaram perante um homem morto
e dois cinzeiros com trinta pontas de cigarros.
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