Tarrafal - Campo da Morte Lenta
Pedro Soares
Colecção Resistência
Edições Avante, Lisboa, Setembro de 1975
Um dia encontrámos no caminho um cão. O pobre animal, escanzelado e
cheio de fome, tornou-se o nosso melhor amigo. Demos-lhe de comer e depois,
todos os dias, comia também o rancho intragável. Amigo fiel, o pobre animal não
nos abandonava. Quando a fila interminável de homens saía, o cão saía também.
E porque o cão era um amigo de cada preso, cada preso o acarinhava, o
guarda Manuel Henriques resolveu matá-lo. Um dia, quando vínhamos da fonte com
as latas de água ao ombro, puxou da pistola e desfechou-lhe sobre o crânio. O
pobre animal, na agonia, latiu ainda, e Manuel Henriques apontou-lhe de novo a
arma.
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