Seara de Vento
Manuel da Fonseca
Capa: João da Câmara Leme
Colecção Contemporânea nº 39
Portugália Editora, Lisboa, Dezembro de 1962
- O pai não devia ter ido com o Galrito.
- É o que eu penso. Mas nem cheguei a dizer nada. Ninguém me dá ouvidos
nesta casa…
- Deixem-se disso! – interpõe com aspereza Armanda carrusca. – Eu acho
que ele fez muitíssimo bem. Pois! A gente não pode é continuar assim.
- Não podemos, não. Mas o pai faz mal. Houvesse o que houvesse, ele
nunca se devia ter metido com esses tipos. Demais, eu já lhe tinha dito que os
homens andam a combinar uma ida à vila para pedirem trabalho.
- Lá vens tu com as tais ideias!...
Bonito! Isso de irem todos à vila, como um bando de mendigos, há-de dar
um grande resultado… Que cada um tarte de si, e já lhe chega!
- A gente tem visto, avó – Mariana tira os pés das proximidades das
brasas e endireita o tronco, muito séria. – Temos visto o que eles conseguem, o
pai e os outros, cada um para seu lado. Convença-se de uma vez para sempre que
só todos juntos hão-de alcançar alguma coisa. Um homem sozinho não vale nada.
- Não digas mais! Eu já sei o resto de cor e salteado!... Loas, rapariga,
tudo isso são loas! Não há que ver, deram-te volta aos miolos. Que perderá o
teu pai em ir ganhar uns escudos para que haja comida nesta casa
- Perde. E muito, fique sabendo. Até hoje, ainda há quem acredite que
foi sempre honesto e que nunca roubou nada a ninguém. Mas, amanhã, quando se
vier a saber onde vai arranjar dinheiro, quem é que acreditará nele?
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