26 de Abril de 1974
O segundo dia da nossa vida em liberdade.
Aos poucos a rotina do quotidiano vai entrando na normalidade.
Caminha-se para os empregos, para as escolas, para as fábricas,
são os mesmos passos, os mesmos rostos mas têm uma outra vivacidade, um outro
fulgor.
Os jornais dão todo o destaque aos acontecimentos da data
histórica.
O Diário de Lisboa é o único que puxa
para a primeira página a grande notícia dos dias que vão correndo: a
libertação dos presos políticos, a rendição da PIDE/DGS.
No miolo da reportagem uma pergunta óbvia, uma resposta com
o seu quê daquilo mais tarde irá acontecer:
- O que vão fazer aos pides, pergunta o repórter ao comandante dos
páras.
- Temos que ter compaixão e humanidade para com eles, respondeu-nos o
capitão.
Mário Castrim coloca em título no seu Canal da Crítica: Televisão,
alegria do povo, mas são de louvor à rádio as suas primeiras palavras:
Na página 12 uma notícia que, de modo algum, a censura
deixaria passar.:
Na página 13 destaque para as, possíveis, posições dos
movimentos de libertação face aos acontecimentos ocorridos em Portugal.
Em Kinshasa, Holden Roberto recusou-se a fazer quaisquer
comentários até que a situação em Portugal evolua.
Aguarda-se uma declaração formal do porta-voz oficial do
MPLA.
Não foi possível contactar com responsáveis da Frelimo.
Desde Lusaka os combatentes dos Movimentos de Libertação nos
territórios africanos de Portugal não se sentem seguros se o golpe militar em
Lisboa virá ajudar a luta que travam pela independência total das colónias:
Na pág. 15 a reprodução de uma carta em que o Presidente da Comissão Central pedia explicações ao Director do jornal, Raul Rego, por ter publicado um artigo que fora alvo de cortes da censura:
Na mesma página uma pequena, mas lamentável notícia dá conta
de que apesar da intervenção dos
militares não foi possível salvar muitos arquivos e documentos da Censura que o
povo lançou à rua sendo destruídos.
Aquele documentos eram parte da nossa história. Estava lá
nesse momento, assisti ao crime, mas como se poderia tê-lo evitado?
Quarenta e oito anos de ódio e repressão sobre um povo,
cegam, pesam muito:
Na página 17 um curioso texto de louvor à Margem Sul:
Na primeira página do Diário Popular amplo destaque à
apresentação da Junta de Salvação Nacional.
Com chamada para a pág. 12: O Almirante Américo Tomás e o
Prof. Marcello Caetano Chegaram à Ilha da Madeira.
Na página 9 foco para
as cinco edições que o Diário Popular publicara no dia anterior.
Na última página destaque para as preocupações da imprensa
de direita inglesa sobre o futuro de África:
Tanto o Diário de
Notícias, como O Século dão amplo desenvolvimento a tudo o que foi acontecendo
no dia em que ditadura caíu.
Em O Século realce para o
relato da última sessão da Assembleia Nacional;
Também em O Século, a primeira fotografia publicada
na imprensa da prisão de três pides, passos iniciais do que vai ficar a ser
conhecido como a «caça ao pide.»
Por fim, três curiosos destaques retirados da 1ª página do jornal Época,
jornal oficial do ex-regime, ainda com o nome do ultra Barradas de Oliveira
como director:
- Um movimento Militar depõe o Governo
- O Prof. Marcelo Caetano rendeu-se ao General António de Spínola
- Garantir a a sobrevivência da nação como pátria soberana no seu todo pluricontinental, é um dos compromissos da
Junta de Salvação Nacional perante o país segundo a proclamação que o General
António de Spínola leu à Nação.
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