A Noite da Vergonha
Mário Ventura
Capa: Guilherme Casquilho
Livraria Bertrand, Lisboa s/d
É detestável, eu sei, mas não me posso
contrariar. Não consigo vê-los de outra forma que não seja a de vermes a
rastejar, a rastejar sempre, eternamente, sem um momento de revolta ou de
lucidez… Não vislumbro neles qualquer espécie de elevação, a não ser a de
viver, se é que a involuntariedade desse acto lhes deixa qualquer mérito. Como
se nada tivessem do que eu penso que faz um ser humano digno e consciente:
simplicidade, raciocínio, capacidade de agir. E contudo sei que não é assim;
crei até, e com convicção, que se encontram no mesmo plano que eu, e quantos
deles acima de mim… Mas para o compreender, para o sentir verdadeiramente,
necessito de presenciar a sua vida, os seus problemas. Assim, visto à
distância, num cenário que nada tem de humano, possuem o sabor de fantoches, de
bonecos articulados, a provocarem um riso amargo…
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