Neste EP, chamado Dulcineia, que é título
do poema de José Gomes Ferreira, publicado em 1971, Manuel Freire faz a primeira
abordagem a poemas de José Saramago.
O poema escolhido foi Fala do Velho do Restelo ao Astronauta.
Os outros poemas do disco, para os quais, Manuel Freire fez
a música são Poema da malta das Naus de António Gedeão e Canção
de Eduardo Olímpio.
Aqui, na Terra, a fome continua,
A miséria, o luto, e outra vez a fome.
Acendemos cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
Ou talvez da pobreza, e da fome outra vez,
E pusemos em ti nem eu sei que desejo
De mais alto que nós, e melhor e mais puro.
No jornal soletramos, de olhos tensos,
Maravilhas de espaço e de vertigem:
Salgados oceanos que circundam
Ilhas mortas de sede, onde não chove.
Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
(E as bombas de napalme são brinquedos),
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome.
Por ocasião dos 25 anos do 25 de Abril, Manuel Freire reuniu,
em formato CD, músicas que fez para poemas de José Saramago. Juntou também a
música que Luís Cília escreveu para Dia Não.
José Saramago escreveu na contra capa do CD:
Há palavras que atam e há palavras que separam. Estas são das que unem
e aconchegam. Por isso, enquanto ele canta, eu vou dizendo baixinho o que
escrevi. É uma forma de agradecer.
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