8 de Abril de 1974
Corriam, tristes e cinzentos os dias de Abril de 1974
Para além da propaganda
do regime, pouco mais se ia sabendo pelos jornais, rádio e televisão, porque a
censura, cada vez mais, apertava o cerco a todas as notícias que informasse o
povo de que não reinava a boa ordem em todo o país.
Assim, sabia-se que
num torneio de atletismo realizado no Estádio Nacional, Fernando Mamede batia o
record nacional e ibérico dos 2000 metros, Amália Rodrigues em digressão por
Itália, deslumbrava os italianos, a revista Alba falava de uma
intérprete tão excepcional, quanto simples e cordial, que, dada a
crescente urbanização dos subúrbios, começa a estudar-se uma ampla remodelação
da linha de Sintra, também a instalação do tráfego ferroviário na então chamada
Ponte Salazar, a polícia visita as instalações do ABC Cine Clube porque o Governo
Civil, simplesmente, pretendia
um exemplar, dos respectivos estatutos, numa entrevista, publicada no Cinéfilo,
o jornalista perguntava a Patxi em Andion, dera espectáculos com lotações
esgotadas, que dado o seu canto de
intervenção qual o motivo por que
gravava para a Phonogram, uma empresa capitalista, ao que, lucidamente,
o cantor respondeu Não! Não estou a
condescender. Para mim é muito importante… Se eu quero lutar contra tanques e
posso conseguir um tanque, é muito melhor do que ir de mãos nuas. Se quero
lutar contra o sistema, Isto implica uma utilização do sistema. Reparem que eu
estou a vender à burguesia a sua própria crítica.
Cada vez mais
violentamente, prosseguia a guerra colonial.
Neste nosso reino as colónias nunca foram uma questão
pacífica.
Já em A
Ilustre Casa de Ramires, Eça de Queiroz, põe o economista Gouveia a dizer
à srª D. Graça:
Tenho horror à África. Só serve para nos dar desgostos. Boa para vender, minha senhora! A África é como essas quintarolas, meio a monte, que a gente herda duma tia velha, numa terra muito bruta, muito distante, onde não se conhece ninguém, onde não se encontra sequer um estanco; só habitada por cabreiros, e com sezões todo o ano. Boa para vender.
Gracinha enrolava lentamente nos dedos a fita do avental:
- O quê! Vender o que tanto custou a ganhar, com tantos trabalhos no mar, tanta perda de vida e fazenda?!
- Quais trabalhos, minha senhora? Era desembarcar ali na areia, plantar umas cruzes de pau, atirar uns safanões aos pretos… Essas glórias de África são balelas.
Os anúncios acima publicados, são exemplos das muitas
ofertas de emprego que então se podiam encontrar nos jornais, mas contém uma
condição: serviço militar cumprido.
Os jovens saídos dos liceus das escolas industriais,
comerciais, confrontavam-se com o drama: as empresas admitiam trabalhadores ,mas
apenas os que tivessem cumprido o serviço militar.
As famílias que tantos sacrifícios faziam para dar um curso
aos filhos ficavam perante mais um gritante problema: os jovens a aguardarem
incorporação no serviço militar estavam proibidos de trabalhar.
Dramas de que, possivelmente, já poucos se lembram.
Sem comentários:
Enviar um comentário