terça-feira, 8 de abril de 2014

SERVIÇO MILITAR CUMPRIDO




8 de Abril de 1974

Corriam, tristes e cinzentos os dias de Abril de 1974

Para além da propaganda do regime, pouco mais se ia sabendo pelos jornais, rádio e televisão, porque a censura, cada vez mais, apertava o cerco a todas as notícias que informasse o povo de que não reinava a boa ordem em todo o país.

Assim, sabia-se que num torneio de atletismo realizado no Estádio Nacional, Fernando Mamede batia o record nacional e ibérico dos 2000 metros, Amália Rodrigues em digressão por Itália,  deslumbrava os italianos, a  revista Alba falava de uma intérprete tão excepcional, quanto simples e cordial, que, dada a crescente urbanização dos subúrbios, começa a estudar-se uma ampla remodelação da linha de Sintra, também a instalação do tráfego ferroviário na então chamada Ponte Salazar, a polícia visita as instalações do ABC Cine Clube porque o Governo Civil, simplesmente, pretendia um exemplar, dos respectivos estatutos, numa entrevista, publicada no Cinéfilo, o jornalista perguntava a Patxi em Andion, dera espectáculos com lotações esgotadas,  que dado o seu canto de intervenção qual o motivo por que gravava para a Phonogram, uma empresa capitalista, ao que, lucidamente, o cantor respondeu Não! Não estou a condescender. Para mim é muito importante… Se eu quero lutar contra tanques e posso conseguir um tanque, é muito melhor do que ir de mãos nuas. Se quero lutar contra o sistema, Isto implica uma utilização do sistema. Reparem que eu estou a vender à burguesia a sua própria crítica.
                                              
Cada vez mais violentamente, prosseguia a guerra colonial.

Neste nosso reino as colónias nunca foram uma questão pacífica.

Já em  A Ilustre Casa de Ramires, Eça de Queiroz, põe o economista Gouveia a dizer à srª D. Graça:

Tenho horror à África. Só serve para nos dar desgostos. Boa para vender, minha senhora! A África é como essas quintarolas, meio a monte, que a gente herda duma tia velha, numa terra muito bruta, muito distante, onde não se conhece ninguém, onde não se encontra sequer um estanco; só habitada por cabreiros, e com sezões todo o ano. Boa para vender.

Gracinha enrolava lentamente nos dedos a fita do avental:

- O quê! Vender o que tanto custou a ganhar, com tantos trabalhos no mar, tanta perda de vida e fazenda?!

- Quais trabalhos, minha senhora? Era desembarcar ali na areia, plantar umas cruzes de pau, atirar uns safanões aos pretos… Essas glórias de África são balelas.

Os anúncios acima publicados, são exemplos das muitas ofertas de emprego que então se podiam encontrar nos jornais, mas contém uma condição: serviço militar cumprido.

Os jovens saídos dos liceus das escolas industriais, comerciais, confrontavam-se com o drama: as empresas admitiam trabalhadores ,mas apenas os que tivessem cumprido o serviço militar.

As famílias que tantos sacrifícios faziam para dar um curso aos filhos ficavam perante mais um gritante problema: os jovens a aguardarem incorporação no serviço militar estavam proibidos de trabalhar.

Dramas de que, possivelmente, já poucos se lembram.

Assim como de outras coisas mais!...

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