27 de Abril de 1974.
O terceiro dia da nossa vida em liberdade.
Todos os jornais dão conta das reuniões que vão ocorrendo,
no Palácio da Cova da Moura, com a Junta de Salvação Nacional, das
manifestações de apoio ao Movimento das Forças Armadas que vão acontecendo por
todo o País.
Anuncia-se que está prevista para amanhã a chegada a Lisboa
de Mário Soares e que os bancos
reabrirão na segunda-feira dia 29.
Após demoradas negociações são libertados os presos
políticos que se encontravam no Forte de Peniche. Os presos tinham decidido que
ou saiam todos ou não saia nenhum.
Esta é a 1ª página de A Capital que na sua página 4
noticia que o Presidente da Assembleia Nacional, engº Amaral Neto cancelou a
reunião marcada para este dia e aguarda, apenas, que a Junta de Salvação
Nacional decrete a dissolução da Assembleia.
O Diário Popular dava conta que, em Beja, foi preso pela polícia um homem que ostentava um cartaz a pedir a extinção da PIDE.
Destaque na página 14 para a reunião que a Conferência
Episcopal iniciou, em Fátima, no dia 23, ainda em tempo de ditadura, e que teve
o encerramento ontem ao final da tarde.
Os senhores bispos mudaram de agulha e emitem um comunicado
em que formulam votos para que os acontecimentos destes dias contribuam para o bem da
sociedade portuguesa, na justiça, na reconciliação e no respeito
por todas as pessoas. Apelam para a virtudes cívicas dos católicos e
demais portugueses de boa vontade. E rezam a Deus pelo povo de Portugal.
A conferência aproveita para se solidarizar com o Bispo de
Nampula, expulso de Moçambique, nos primeiros dias de Abril, pela ditadura.
Essa solidariedade teria sido bem-vinda aquando dos
acontecimentos, que também envolveram a expulsão de diversos missionários
acusados de atentados de se oporem à guerra colonial.
Mas apenas um beato silêncio.
Profundo foi também o silêncio que os senhores bispos
mantiveram, durante quarenta e oito anos, com um regime que oprimia e perseguia
um povo e mantinha em África uma guerra que matou, estropiou milhares de portugueses e africanos..
O República revelava que no Forte de
Caxias estavam presos 228 membros da Ex-PIDE-DGS e que ainda continuavam à
solta mais de dois mil agentes.
Oportuna a entrevista que na página 13 o desembargador Rocha
Cunha concedeu a Fernando Assis Pacheco.
Está por fazer a história da participação dos juízes dos
Tribunais Plenários. Pior ainda o sabermos que, após o 25 de Abril, esses mesmos
juízos foram integrados no sistema judicial sem nunca terem sido
responsabilizados e julgados. Eles foram protagonistas do aparelho repressivo
da ditadura.
Uma impunidade que há-de estender-se aos agentes da PIDE-DGS
e outros servidores do Estado Novo.
Não por uma questão de vingança, apenas por uma questão de
justiça.
Na sua página de espectáculos o jornal avisava que, por motivos óbvios, não era
possível revelar a programação da RTP:
Como os restantes jornais, O Século noticiava o
assalto que populares fizeram ao edifício do jornal Época, que não se
publicou neste dia, e que obrigou à intervenção de elementos das Forças Armadas.
Face a este incidente, e outros que iam acontecendo, a Junta
de Salvação Nacional emitia um comunicado:,, como a invasão das instalações da
A.N.P. a Junta de Salvação Nacional tomava posição.
Na página 7 publicava-se uma fotografia de Eduardo
Gageiro que registava o momento em que um
membro da PIDE-DGS era preso.
Esta fotografia correrá mundo.
Também a notícia da morte do poeta Pedro Oom, fulminado por
um ataque cardíaco. O poeta que tinha 47 anos, um pouco menos que o regime
deposto, e não resistiu à emoção de ver cair a ditadura,
Fotografia na última página do Diário de Lisboa.
No Largo da Misericórdia, o povo largou fogo a um automóvel da PIDE,
ontem á tarde. Três agentes transportavam-se nele quando, cerca do meio-dia,
foram identificados por populares arrastados para junto do pelourinho do largo
e desramados pelo Exército. O povo queria linchá-los, tendo sido contido só a
muito custo pelo capitão e pelos poucos soldados que os guardavam.
Como era sábado, saída para as bancas do semanário Expresso
Curiosidade sobre a abordagem que seria feita aos acontecimentos
do 25 de Abril, mas os leitores encontraram uma edição inócua e hibrida.
A parte final do editorial do Expresso:
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