quinta-feira, 3 de abril de 2014

OLHAR AS CAPAS


Francisco Miguel: Das Prisões à Liberdade

Fernando Correia
Capa: Ivone Ralha
Colecção Resistência nº 18
Edições Avante, Lisboa Fevereiro de 1986

Na tarde de 10 de Janeiro de 1938 Francisco Miguel dirigiu-se a uma casa onde funcionava um «entreposto» da imprensa partidária, para os lados do Instituto do cancro, de onde levantou uma mala com manifestos. Seguiu depois para a Rua da Beneficência, de onde voltou a sair passadas 1 ou 2 horas a fim de entregar a mala a um camarada que o esperava na Rua da Rosa, no bairro Alto, com passagem pelo marquês de Pombal, onde entretanto tinha outro encontro com um individuo de Sintra.
Foi a pé São Sebastião da Pedreira, tomando aí o eléctrico que vinha de Benfica. Desceu no Marquês e dirigiu-se para o local do encontro. O tal individuo de Sintra (com quem de outras vezes se tinha encontrado) apareceu, junto de uma determinada porta, conforme combinado. Só que não estava sozinho. Acompanhavam-no o agente da PVDE José Gonçalves e outros agentes, que depois de violentamente agarrarem Francisco Miguel, que lhes ia chamando nomes para chamar a atenção dos transeuntes, o levaram apara a sede da Rua António Maria Cardoso (onde mais tarde funcionaria também a PIDE e a DGS). Entretanto, o tal de Sintra, a quem José Gonçalves chamara Almeidinha, tinha desaparecido…
Era a primeira prisão, e foram também as primeiras agressões. Logo no rés-do-chão do edifício da PVDE, o agente Júlio de Almeida levou Francisco Miguel para o lavabo e deu-lhe um soco que o deixou a sangrar abundantemente do nariz. Depois, durante a noite, foi espancado por 6 agentes (José Gonçalves e Rosa Casaco esmeraram-se na brutalidade) que se iam revezando na sua sórdida tarefa, recorrendo não só aos socos e pontapés mas também a instrumentos tão variados como o cavalo-marinho, uma grossa tábua com uma pega especial a que chamavam «arriba Espanha» e até umas portas que certamente por motivo de obras se encontravam naquela sala do 3º andar. O corpo de Francisco Miguel ficou quase todo completamente negro – mas os torcionários não obtiveram aquilo que pretendiam.    

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