22 de Abril de 1974
Os jornais trazem nas suas primeiras páginas fotografias do
almoço íntimo que o chefe de estado Almirante Américo Tomás ofereceu, ontem, no
Palácio Nacional de Belém do Chefe do Governo.
Sem protocolo, revestido de cunho de cordialidade,
num ambiente extraordinariamente amistoso, estiveram presentes o Chefe do
Governo Marcelo Caetano, os presidentes da Assembleia Nacional, da Câmara
Corporativa e do Supremo Tribunal de Justiça, os ministros da Defesa Nacional,
do Interior, da Justiça e das Finanças, o Procurador Geral da República,
diversos conselheiros de estado, o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa,
alguns deputados com saliência para almirante Henrique Tenreiro assim como
outras personalidades do regime e da íntima confiança de Tomás.
Olha-se a fotografia e vemo-los descontraídos e sorridentes.
Desconheciam ainda que almoçavam, todos juntos, pela última
vez, tal como desconheciam que poucos dias faltavam para deixarem de sorrir.
O pânico haveria de tomar conta das suas excelsas
e distintas pessoas.
O República conseguiu, numa pequena
notícia, dar conta que quatrocentos democratas marcaram presença na homenagem a
Óscar Lopes.
No mesmo jornal, o jornalista e escritor Álvaro Guerra, encarregado
pelos capitães da ligação com a imprensa, no seu habitual Ponto Crítico abordava a
meteorologia e se pudéssemos decifrar as entrelinhas ficaríamos a saber que o
tempo ia mesmo mudar.
Naturalistas, alegóricos, nostálgicos, vamos seguindo os caprichos do clima, mitigando a ausência das palavras primaveris com a decifração de eternos boletins meteorológicos.
Otelo Saraiva de Carvalho comunica aos seus camaradas que
tem pronto o Plano Geral das Operações.
Grândola é escolhida para segunda senha do Movimento dos
Capitães. Almada Contreiras em 25 de Abril Memórias, explica: escolhi
a Grândola, em primeiro lugar, porque sou alentejano, depois porque gosto muito
da canção. Se fosse minhoto, provavelmente a senha seria um “vira”, não sei.
Sem comentários:
Enviar um comentário