À porta da tasquinha onde compro o tabaco
há sempre um rancho d’homens do Benfica.
Julgo até que cobram quotas para ficarem ali
a discutir estratégias e treinadores.
Quando entro, a meio da noite, a discussão
suspende-se e eles põem-se a tossir e a fazer tempo.
A velhota tem um ferro comprido
com que retira do alto das prateleiras
o maço de cigarros.
Existe uma luz fraca que deixa ver
as caixas de
bolachas e as garrafas de anis
cobertas de poeira.
Não sei porque perturbo aquele comício
de velhos reformados e jovens de blusão
que pousam sobre mim os seus olhos de somo de modo
sobranceiro.
Sempre que quis fixar um rosto
ouvi uma
gargalhada ou murro sobre a pedra
das mesas com círculos de vinho:
não ando de sotaina pelas ruas
e o cabeção não me aperta o pescoço.
Começo a decorara os nomes desses apóstolos
que passam entre si uma hóstia
maciça e cobiçada.
E sei que um dia vou entrar naquela Tasca
e em vez de pedir o maço do costume
comungarei também a última jornada.
Armando Silva
Carvalho
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