segunda-feira, 24 de agosto de 2015

OLHAR AS CAPAS


Antologia Poética

Jacque Brel
Textos sobre Jacques Brel, entrevistas com Jacques Brel e Poemas
Tradução e Introdução de Eduardo Maia
Colecção Lagarto nº 11
Assírio & Alvim, Lisboa, Setembro de 1985

J C - Parece-me que não gosta muito daquela sua canção intitulada «Quand maman reviendra», visto que nunca a canta em público. Porquê?
JB - É verdade qie não gosto muito dessa canção. Aliás, ela já passou por diversas vicissitudes. Comecei por escrevê-la com uma música diferente de que você conhece, mas tive de fazer outra. Mas, sobretudo, aconteceu que não consegui fazer o que queria realizar inicialmente. A história devia desenrolar-se na periferia de uma grande cidade dos Estados Unidos. E eu quis armar em proletário, que o não sou. Quis-me pôr na pele de um tipo de vinte anos, e já os não tenho. Cada vez que faço batota comigo mesmo sai asneira, o que é bem feito. Na altura penso que estou a ser sincero, estou convencido que tenho mesmo vinte anos, etc. Vejo-me sentado no passeio numa zona operária, e fico todo convencido, todo babado. E juro que tenho realmente a sensação de estar a ser honesto. No entanto, quando acabo o trabalho, dou conta, quando já é tarde, que o não estava a ser. É assim que se estraga uma canção.

(Da entrevista deJean Clouzet)

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