18 de Agosto de
1975
Vasco Gonçalves,
em Almada, profere um discurso de hora e meia a que alguns historiadores e
cronistas teimam em balizar como o fim do gonçalvismo.
Poderiam dizer
que chegara a hora da verdade,
Ou como se
explicava Eduardo Prado Coelho, num artigo em O Jornal, citando Cohen-Bendit, quando
este dizia que as barricadas não servem para mais nada a não ser para uma
coisa: saber quem está de um lado e quem está do outro.
Do discurso de
Vasco Gonçalves;
No dia em que se escrever a história destes últimos
quinze meses e se trouxer a lume as traças e as manhas de alguns dos seus
autores e figurantes, uns cujos nomes andam nas gazetas nacionais e
estrangeiras, como paladinos da revolução e da liberdade, outros conspirando
nos corredores e nos cantos da sombra, haverá decerto quem fique surpreendido.
No entanto, para a grande maioria do nosso povo, a quem não se pode enganar
eternamente, a boa-fé, as revelações que se fizerem não serão mais do que a
confirmação daquilo que ele já há muito suspeita.
Chegou, enfim, a hora da verdade da revolução
portuguesa. A partir deste momento não fica mais campo para os socialistas de
palavras, para os falsos socialistas. É bom que todos estejam conscientes desta
questão e façam um esforço no sentido de verem, para além das campanhas de
intoxicação e de ataque que ultimamente têm chegado a algumas organizações e
figuras entre as quais eu me encontro. A questão é entre aqueles que querem
exercer o Poder no sentido de ajudarem os outros a tomar o seu destino nas suas
próprias mãos e aqueles que, pretendendo exercer o Poder em nome do povo querem
perpetuar a sua exploração. A questão coloca-se entre os que são socialistas
nos actos e os que são socialistas nas palavras. A questão não é, pois, de
oposição entre Vasco Gonçalves e Fulano ou Vasco Gonçalves e Sicrano. Não se
trata, pois, de um problema de individualidades. A questão, repito, não é esta.
A questão é mais profunda, só se pode pôr no campo da luta de classes, no campo
da opção de classe, pondo as coisas claramente.
A Revolução não é de ninguém, é de todos. Por isso,
agora que o fascismo - mercê das nossas hesitações, ambiguidades e
querelas subalternas - está a levantar cabeça para recuperar o perdido em 25 de
Abril, todos os antifascistas, todos os patriotas, todos os democratas, seja
qual for o partido político a que pertencem, devem unir-se numa frente de
defesa das liberdades democráticas, inabalável e indestrutível!
Fontes:
- Acervo
pessoal;
- Os Dias
Loucos do PREC de Adelino
Gomes e José Pedro Castanheira.
- Discursos de Vasco Gonçalves, Edição de Augusto Paulo da Gama, 1976.
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