terça-feira, 18 de agosto de 2015

DEIXEM-ME AO MENOS O MAR


 - Fui tomar banho com Ginetta – disse-lhe. – Você não toma?
No fim do primeiro dia aludira, por cortesia, a ir para a água com ela, mas Clélia parara, olhando-me com um sorriso ambíguo:
- Não, não – dissera. Eu, surpreso, tinha-a encarado. – Não, não, vou para água só. – Não houvera meio de a modificar. Explicara-me que fazia tudo em público, mas com o mar queria estar só.
- Mas é estranho.
- Será estranho mas é assim.
Nadava bem e não fazia aquilo por embaraço. Era uma decisão sua.
- Basta-me a companhia do mar. Não quero ninguém. Na vida não tenho nada de meu. Deixem-me ao menos o mar.

Cesare Pavese  em A Praia

Legenda: pintura de Antonio Morano

Sem comentários: