quarta-feira, 12 de agosto de 2015

QUOTIDIANOS


Quando fez cem anos disse que estava farta de fazer anos.
Nunca fez nada para prolongar a vida: despreza dietas, odeia médicos e dá-se mal com medicamentos.
Deixou de fumar em solidariedade com o marido.
Restringiu o álcool às madrugadas.
Quando acorda de noite com um arrepiozinho de frio e parece que vai desmaiar, bebe um cálice de Vinho do Porto.
Não quer ser mais velha.
Falta-lhe a vista, falta-lhe o ouvido, um dia destes não pode andar.
Vive aborrecida.
Mete-se na cama às nove horas e olha para a parede até adormecer.
«Não vale a pena», conclui.

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