Porque buscamos
no quotidiano uma estrada
onde se repita o amor e a casa de algum Verão.
Porque a memória
tem sinais de trânsito e
às vezes falamos
muito e alto quando está
vermelho para
recordar, e chamamos os amigos
e de repente
fica amarelo sem sabermos como,
e no fim do dia,
quando nos deitamos, cai o
verde e tudo
avança e as recordações são em
vez do sono, são
em vez da vida, são em vez do
verbo. Porque
também nós temos montanhas
e rios
assinalados e também em nós há
itinerários
principais e secundários e ruas que
vão da cabeça
aos pés quando a mão desejada
nos percorre como carro de brincar. Porque
também nós
exigimos um novo aeroporto
onde pousar a
cabeça, ou pelo menos algumas
obras no aeroporto onde desajeitadamente
procuramos
aterrar. Porque mesmo com
quatro ou vinte
auto-estradas continuamos a ter
o caminho para o tanque onde mergulhávamos
na infância.
Porque andamos todos à procura
uns dos outros
dentro e fora de quem somos e
parece que nos
desencontramos, que paramos
na estação de
serviço errada, a 10 km, sempre a
olharmos para o
relógio, a 10 km, na direcção uns
dos outros, a 10
km mas na estação de serviço
errada. Porque o
limite do corpo é o desenho do
mapa e às vezes
apetece rasgar, omitir, estender
a fronteira, mas para isso há a guerra, porque
imediatamente
fora desse limite há outros e
outros países
invadidos por nós. Porque no
fundo desejamos
apenas ser conquistados.
Porque os países
conquistados conseguem
mexer no mapa e
não ter culpa. Porque os
países
conquistados se reconstroem depois da
guerra e antes
do recomeço do amor.
Somos um mapa
circular, humano e excessivo.
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