sábado, 8 de agosto de 2015

OS IDOS DE AGOSTO DE 1975


8 de Agosto de 1975

COSTA GOMES dá posse ao V Governo Provisório, chefiado por Vasco Gonçalves, e apresenta-o como uma solução transitória, necessária para evitar uma  detioração da crise.
Como o PS e o PPD recusaram participar no governo, Vasco Gonçalves teve grande dificuldade em constituir o governo, mas não se poderá dizer que a qualidade e competência estivessem ausentes.
De referir que Otelo recusou ser vice-ministro e numa carta, tão descabida como indelicada, dirigida a Vasco Gonçalves, Otelo proíbe-o de visitar as unidades militares integradas no COPCON e pede ao general que descanse, repouse, serene, medite e leia.
Constituição do Governo:
Vasco Gonçalves – Primeiro-ministro
José Teixeira Ribeiro, António Arnão Metelo - Vice-ministros 
Silvano Ribeiro – Ministro da Defesa
Alfredo Cândido de Moura - Ministro Administração Interna
 Joaquim Rocha e Cunha Ministro da Defesa
Mário Murteira – Ministro do Planeamento e Coordenação Económica
José Joaquim Fragoso - Ministro das Finanças
Mário Ruivo – Ministro dos Negócios Estrangeiros
Henrique de Oliveira e Sá - Ministro do Equipamento Social e Ambiente
José Emílio da Silva – Ministro da Educação e Cultura
Fernando Baptista -  Ministro da Agricultura e Pescas
José da Silva Lopes – Ministro Comércio Externo
Manuel Macaísta Malheiros - Ministro do Comércio Interno
Fernando Quitério de Brito – Ministro da Indústria e Tecnologia. 
Costa Martins – Ministro do Trabalho
Francisco Pereira de Moura – Ministro dos Assuntos Sociais
Henrique Oliveira e Sá – Ministro dos Transportes e Comunicações
Correia Jesuíno - Ministro da Comunicação Social.
Discurso da tomada de posse de Vasco Gonçalves
Senhor Presidente da República
Camaradas das Forças Armadas
Senhores Ministros
Portugueses:
Com a tomada de posse do V Governo Provisório, damos um passo importante para a superação de mais um momento difícil da nossa Revolução.
As dificuldades na formação deste Governo mais não são que reflexos dos problemas cada vez mais complexos que a marcha do processo revolucionário nos traz.
Já o tenho dito em outras ocasiões, mas nunca é demais repetir que a substituição do velho pelo novo é sempre dolorosa e difícil.
Neste momento, e aproveitando uma conjuntura particularmente complicada no desenvolvimento do nosso processo revolucionário, em que as dificuldades económicas resultantes do desmantelamento do sistema económico velho, da crise do capitalismo internacional, dos erros por nós cometidos, se entrelaçam com a grave situação de Angola, com o aumento das pressões internacionais sobre o nosso País e com a incapacidade das forças, a quem a Revolução objectivamente serve para encontrarem um caminho firme de avanço neste processo de transição para o socialismo, as forças reaccionárias, as forças que não pretendem a construção do socialismo em Portugal, desencadearam uma forte ofensiva que tem deparado com aliados onde devia ter inimigos jurados.
Na tentativa de superação da crise económica que o país atravessa, empenhará este Governo todo o seu esforço, sendo a tónica dominante dirigida à execução de medidas imediatas e pontuais.
A par de outras acções que se impõem para já e que estão na fase final de elaboração, serão imediatamente promulgadas algumas medidas moralizadoras e de austeridade, que o momento actual exige.
Temos também consciência que o mundo rural, tradicionalmente sacrificado, pouco ou nada beneficiou no aspecto económico com a libertação política iniciada em 25 de Abril de 1974, alargando-se mesmo as diferenças de nível de vida relativamente às populações urbanas.
Por isso o nosso esforço irá incidir, prioritariamente no sector agrícola.
É pois necessário que os trabalhadores dos outros sectores da vida nacional ponderem a actual situação e sejam realistas. A grande tarefa do momento, para todos os portugueses conscientes e patriotas, é a de conquistar mais revolucionários para a Revolução.
Uma outra tarefa que se colocará a este Governo em colaboração estreita com as Forças Armadas e com o Povo Português será a do combate sereno mas firme às forças reaccionárias. No combate aos fenómenos de neo-fascismo que ultimamente se têm multiplicado no nosso país serão usadas severidade na repressão e determinação na tomada de medidas que tornem irreversível a construção do socialismo em Portugal, única forma de afastar para sempre o perigo do renascimento da opressão fascista.
Aos trabalhadores portugueses que nos têm dado os melhores exemplos revolucionários caberão as principais tarefas na construção do socialismo. Mais do que nunca o momento exige-lhes realismo reivindicativo, defesa da sua unidade de classe e construção da unidade indispensável com os trabalhadores do campo, com a pequena burguesia e com sectores da média burguesia.
A todos os portugueses e forças políticas patriotas e progressistas, ao Povo Português, faço um apelo à reconciliação, à unidade em volta das Forças Armadas —garantes do processo revolucionário e da democracia —, à construção de uma frente que englobando todos os portugueses que têm por objectivo a edificação do socialismo em Portugal torne irreversível o processo revolucionário iniciado a 25 de Abril.

EM TEMPO DE Cartas Abertas, Mário Soares envia uma a Costa Gomes:
A minha carta não é um desabafo: é uma advertência. Séria. E solene. É uma definição clara da responsabilidade de cada um, de cada campo em presença, perante o povo e perante a história.
Será ainda possível entendermo-nos? Pormo-nos de acordo nos termos de um projecto político comum que vença a crise e salve a Revolução, que assegure as liberdades, o socialismo e a esperança das massas trabalhadoras deste País?
Antes que seja tarde.
Não deixe acontecer o irremediável.

O DIRECTÓRIO (Costa Gomes, Vasco Gonçalves, Otelo) toma posição quanto ao Documento dos Nove:


Fontes:
- Acervo pessoal;
Os Dias Loucos do PREC de Adelino Gomes e José Pedro Castanheira.
- Discursos de Vasco Gonçalves, Edição de Augusto Paulo da Gama, 1976.

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