8 de Agosto de
1975
COSTA GOMES dá
posse ao V Governo Provisório, chefiado por Vasco Gonçalves, e apresenta-o como
uma solução transitória, necessária para evitar uma detioração da crise.
Como o PS e o PPD
recusaram participar no governo, Vasco Gonçalves teve grande dificuldade em
constituir o governo, mas não se poderá dizer que a qualidade e competência
estivessem ausentes.
De referir que
Otelo recusou ser vice-ministro e numa carta, tão descabida como indelicada,
dirigida a Vasco Gonçalves, Otelo proíbe-o de visitar as unidades militares
integradas no COPCON e pede ao general que descanse, repouse, serene, medite
e leia.
Constituição do
Governo:
Vasco Gonçalves
– Primeiro-ministro
José Teixeira Ribeiro,
António Arnão Metelo - Vice-ministros
Silvano Ribeiro
– Ministro da Defesa
Alfredo Cândido
de Moura - Ministro Administração Interna
Joaquim Rocha e Cunha Ministro da Defesa
Mário Murteira –
Ministro do Planeamento e Coordenação Económica
José Joaquim
Fragoso - Ministro das Finanças
Mário Ruivo –
Ministro dos Negócios Estrangeiros
Henrique de
Oliveira e Sá - Ministro do Equipamento Social e Ambiente
José Emílio da
Silva – Ministro da Educação e Cultura
Fernando
Baptista - Ministro da Agricultura e
Pescas
José da Silva
Lopes – Ministro Comércio Externo
Manuel Macaísta
Malheiros - Ministro do Comércio Interno
Fernando
Quitério de Brito – Ministro da Indústria e Tecnologia.
Costa Martins –
Ministro do Trabalho
Francisco
Pereira de Moura – Ministro dos Assuntos Sociais
Henrique Oliveira
e Sá – Ministro dos Transportes e Comunicações
Correia Jesuíno
- Ministro da Comunicação Social.
Discurso da
tomada de posse de Vasco Gonçalves
Senhor Presidente da República
Camaradas das Forças Armadas
Senhores Ministros
Portugueses:
Com a tomada de posse do V Governo Provisório, damos
um passo importante para a superação de mais um momento difícil da nossa
Revolução.
As dificuldades na formação deste Governo mais não são
que reflexos dos problemas cada vez mais complexos que a marcha do processo
revolucionário nos traz.
Já o tenho dito em outras ocasiões, mas nunca é demais
repetir que a substituição do velho pelo novo é sempre dolorosa e difícil.
Neste momento, e aproveitando uma conjuntura
particularmente complicada no desenvolvimento do nosso processo revolucionário,
em que as dificuldades económicas resultantes do desmantelamento do sistema
económico velho, da crise do capitalismo internacional, dos erros por nós
cometidos, se entrelaçam com a grave situação de Angola, com o aumento das
pressões internacionais sobre o nosso País e com a incapacidade das forças, a
quem a Revolução objectivamente serve para encontrarem um caminho firme de avanço
neste processo de transição para o socialismo, as forças reaccionárias, as
forças que não pretendem a construção do socialismo em Portugal, desencadearam
uma forte ofensiva que tem deparado com aliados onde devia ter inimigos
jurados.
Na tentativa de superação da crise económica que o
país atravessa, empenhará este Governo todo o seu esforço, sendo a tónica
dominante dirigida à execução de medidas imediatas e pontuais.
A par de outras acções que se impõem para já e que
estão na fase final de elaboração, serão imediatamente promulgadas algumas
medidas moralizadoras e de austeridade, que o momento actual exige.
Temos também consciência que o mundo rural,
tradicionalmente sacrificado, pouco ou nada beneficiou no aspecto económico com
a libertação política iniciada em 25 de Abril de 1974, alargando-se mesmo as
diferenças de nível de vida relativamente às populações urbanas.
Por isso o nosso esforço irá incidir, prioritariamente
no sector agrícola.
É pois necessário que os trabalhadores dos outros
sectores da vida nacional ponderem a actual situação e sejam realistas. A
grande tarefa do momento, para todos os portugueses conscientes e patriotas, é
a de conquistar mais revolucionários para a Revolução.
Uma outra tarefa que se colocará a este Governo em
colaboração estreita com as Forças Armadas e com o Povo Português será a do
combate sereno mas firme às forças reaccionárias. No combate aos fenómenos de
neo-fascismo que ultimamente se têm multiplicado no nosso país serão usadas
severidade na repressão e determinação na tomada de medidas que tornem
irreversível a construção do socialismo em Portugal, única forma de afastar
para sempre o perigo do renascimento da opressão fascista.
Aos trabalhadores portugueses que nos têm dado os
melhores exemplos revolucionários caberão as principais tarefas na construção
do socialismo. Mais do que nunca o momento exige-lhes realismo reivindicativo,
defesa da sua unidade de classe e construção da unidade indispensável com os
trabalhadores do campo, com a pequena burguesia e com sectores da média
burguesia.
A todos os portugueses e forças políticas patriotas e
progressistas, ao Povo Português, faço um apelo à reconciliação, à unidade em
volta das Forças Armadas —garantes do processo revolucionário e da democracia
—, à construção de uma frente que englobando todos os portugueses que têm por
objectivo a edificação do socialismo em Portugal torne irreversível o processo
revolucionário iniciado a 25 de Abril.
EM TEMPO DE
Cartas Abertas, Mário Soares envia uma a Costa Gomes:
A minha carta não é um desabafo: é uma advertência.
Séria. E solene. É uma definição clara da responsabilidade de cada um, de cada
campo em presença, perante o povo e perante a história.
Será ainda possível entendermo-nos? Pormo-nos de
acordo nos termos de um projecto político comum que vença a crise e salve a
Revolução, que assegure as liberdades, o socialismo e a esperança das massas
trabalhadoras deste País?
Antes que seja tarde.
Não deixe acontecer o irremediável.
O DIRECTÓRIO (Costa Gomes, Vasco Gonçalves, Otelo) toma posição quanto ao Documento dos Nove:
Fontes:
- Acervo
pessoal;
- Os Dias
Loucos do PREC de Adelino
Gomes e José Pedro Castanheira.
- Discursos de
Vasco Gonçalves, Edição de Augusto Paulo da Gama, 1976.
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