19 de Agosto de
1975
É ESTE O
DESTAQUE, de 1ª página, que o Diário de Notícias dá ao discurso de Vasco
Gonçalves, ontem, em Almada.
Mário Castrim,
no seu Canal de Crítica, coloca em título:
Tudo muito simples: era apenas um trabalhador entre
trabalhadores.
Natália Correia em
Não Percas a Rosa:
O que é alarmante é perceber-se que, se os militares
moderados não apearem imediatamente o manicómio gonçalvista, o povo saudará com
frenético entusiasmo todo e qualquer movimento que derrube o poder.
VERGÍLIO FERREIRA
no seu Conta-Corrente:
Ontem o Vasco Gonçalves largou discurso. Espectáculo
extraordinário de desespero, de paranoia. Que se segue? Até quando vai isto
durar? Que nos espera? A guerra civil é hoje visível no horizonte. Onde acolher
os meus sessenta anos? Uma bala que passasse extraviada e decidisse a questão.
Faz agora imensa falta um pouco de saúde a mais e de anos amenos.
VIOLÊNCIA À
SOLTA NO NORTE DO PAÍS é o que vai acontecendo desde Julho e que agora, em
Agosto, se intensifica chegando já ao
centro do país.
Os alvos dos
ataques continuam a ser os Centros de Trabalho do Partido Comunista e as sedes
do MDP/CDE. A onda de violência é desencadeada por elementos do ELP a que se
associam populares descontentes e instigados pelos púlpitos e folhas
paroquiais, numa tentativa de instalar um clima de terror e ódio.
De modo algum
estes actos de violência constituem apenas fenómenos isolados e têm como modelo
o que já se passou no Chile.
Ontem, grupos de
indivíduos não identificados, atacaram o Pavilhão gimnodesportivo de Alcobaça,
onde se realizava um Comício do PCP com a presença de Álvaro Cunhal.
Os desacatos
começaram ao princípio da noite e só foram controlados perto das 2,30 horas após
a intervenção de forças militares do R.I. 7 de Leiria e do RI 5 das Caldas da
Raínha.
Dezenas de
feridos tiveram de ser conduzidos ao Hospital de Alcobaça e alguns ficaram internados,
Hoje, em Angra do
Heroísmo, durante violentos distúrbios, foram destruídas as sedes do PCP,
MDP/CDE e MÊS.
Ainda hoje, em
Ponte de Lima, um brutal ataque ao Centro de Trabalho do PCP, ocasionou um
morto e centenas de feridos.
Durante o dia foram
distribuídos panfletos pela cidade:
Custe o que custar, e doa a quem doer. Acabou de se
esgotar a nossa paciência (senhores) comunistas e seus lacaios: agora ou vai ou
racha. Fora da nossa querida terra. Queridos limianos: não podemos deixar de
estar atentos com os traidores comunistas e seus lacaios porque agora já querem
mudar de casaca para dizerem que foram enganados, para depois apunhalarem pelas
costas os nossos queridos pais e filhos.
Em Braga, durante
a madrugada, foram vandalizadas as montras da Livraria Vitor, propriedade do
historiador e militante do MDP, Vitor Sá.
Fontes:
- Acervo
pessoal;
- Os Dias Loucos
do PREC de Adelino Gomes
e José Pedro Castanheira.
- ContaCorrente de Vergílio Ferreira.
- Não Percasa Rosa de Natália Correia.
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