Querido Robert,
Muitas vezes
quando estou deitada sem conseguir dormir ponho-me a imaginar se também estarás
deitado e acordado. Tens dores ou sentes-te só? Salvaste-me do período mais
negro da minha jovem vida, partilhando comigo o sagrado mistério do que é
ser-se artista. Aprendi a ver através de ti e nunca compus uma frase ou
desenhei uma curva que não venha do conhecimento que eu obtive durante o
precioso tempo que passámos juntos. As origens da tua obra, vinda de uma fonte
fluida, remontam à canção nua da tua juventude. Falavas então em andar de mão
dada com Deus. Lembra-te de que, através de tudo, sempre tiveste essa mão
estendida, aperta-a com força, Robert, e não a largues.
Na outra tarde,
quando adormeceste no meu ombro, eu também dormi. Mas antes disso, ocorreu-me,
ao olhar para todas as tuas coisas e para as tuas obras e percorrendo anos de
trabalho no meu espírito, que entre todas as tuas obras, tu continuas a ser a
mais bela de todas. A obra mais bela de todas.
Patti
Patti Smith em ApenasMiúdos
Sem comentários:
Enviar um comentário