Não nos espantemos, de resto. Que isto se desse com
Guida, não tinha nada de especial. Especial porquê? O falar alto, só para si, é
um excitante intelectual, um devaneio dos solitários, sonho ou vingança. Tecem
diálogos ao espelho das burguesinhas das vilas, fala o cego para o surdo sobre
o mundo que os rodeia. Canta o galo capado, poucos o entendem. E poetas há, nas
Caixas de Previdência, que vagueiam alta noite pelas ruas da Baixa, esmiuçando
conversas de sua imaginação.
É natural. Vivemos numa época em que cada qual fala
para si mesmo na companhia de muitos outros.
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