O meu avô João morreu no dia do Portugal-Espanha dos
4-1, no Jamor, o desafio de futebol que eu mais queria ver e que menos falta me
fez. Solavanco brutal, já em plena adolescência, deu-me noção aguda, intransmissível,
do primeiro grande sentimento de perda. E nem consigo ao de leve transmiti-lo
aqui. Emito apenas um eco, um eco bem vago, da voz dorida da memória. É
complicada a acção do tempo no corpo que habitamos. De qualquer modo,
transporto ainda nos olhos queimados pelo tabaco excessivo, uma loja tranquila,
um lugar de histórias, de amor e de jornais. Legarei pouco aos outros e, nesse
quase nada, ouço as palavras que recebi do meu avô, que já nem eram dele, eram
do futuro. Um grande futuro teimoso.
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