Um dia por quinzena os homens descem ao cais de
estacas e pranchas de madeira, para esperar o barco que vem da ilha mais
próxima. É um barco no estilo dos de pesca, com vela e motor. Quase nunca traz
passageiros. Às vezes traz lenha ou farinha de milho. Os homens da ilha vêm
sempre assistir à chegada do barco. É como os barcos de pescadores, simétrico,
largo ao meio, co0m a popa igual à proa, amarelo e verde ou amarelo e azul.
Eles gostam de ver o barco a entrar na pequena baía. Ficam-se a olhá-lo durante
o dia inteiro, rondando-o, deslocando-se de uma parte para a outra da praia,
para vê-lo do maior número possível de ângulos. Têm a ingenuidade ou sabedoria
de sentir nestas contemplações gratuitas a fonte mais certa da verdade do mundo.
Gostam de ver as coisas, esgotá-las, Recolhem-se depois com elas. Vivem
longamente com a densidade das suas imagens. Disso tudo apuram um encantamento
irónico, uma curta inspiração sem finalidades.
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