Sou Toda Sua, Meu Guapo Cavaleiro
Alexandre
Pinheiro Torres
Capa: José
Serrão
Editorial
Caminho, Lisboa, Setembro de 1994
«Vocês, tu e a Lartinha, são as culpadas. O liceu
Francês é o Moulin Rouge de Lisboa, e, além disso tu, Catarina, és uma das
dirigentes do Movimento nacional Feminino. E que é esse MNF senão um covil de
putas em que uma das presidentes é amante do filho do lavrador do Vimieiro que
atirou o nosso país para a derrota inevitável em África, ao menos D. Sebastião
tinha por si a distinção de maneiras, e elegância, era um autêntico cavaleiro,
enquanto um botas é um Botas, vocês no MNF também organizam concursos ié-iés, ou não é verdade?»
ȃ verdade. Organizamos, sim senhora, e o que dizes
contra Salazar, é porque o teu pai nunca chegou a almirante. O D. Antão toda a
vida tropeçado no vice. Vamos
ganhar a guerra de África nem que tenham de lá ficar todos os portugueses. Tu
não sabes nada, Nhôra, não andas a par dos tempos. Salazar anda muito mais, é a
luz que vai à frente da Europa. E se ainda não anda, por que permitiria ele que
houvesse guitarras eléctricas aos montes no Colégio Militar? Pensas que isto
foi só decisão do coronel Santos Costa? Sabias disso ou não? E não foste tu que
compraste à Jiju um blusão negro com o nome dessa vacona da Isabel Moura nas
costas? Diz-me lá se não haverá rock mesmo nos liceus de Luanda, é ou não é
verdade? Isto enquanto os portugueses são assassinados às dúzias nos matos
pelos terroristas. Pois é, nós as do MNF achamos que era melhor táctica chamar
para cá a pretalhada aos concursos ié-iés por nós organizados. É
impossível deter uma onda mundial. Sim senhora, embarcamos na onda, toca de
controlá-la, canaliza-la, desencorajar que os nossos jovens se tornem numa
coisa pior, cobaias de alucinogéneos. Graças ao Altíssimo a nossa Jesusita não
anda em droga, não anda em trips do LSD, pelos infernos da perdição. Não
há mal que não tenho o seu avesso. E há guerra em Angola, em Moçambique, em
todo o sítio onde estão portugueses.
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