A Câmara
Municipal de Lisboa aprovou, com a abstenção do PSD, os votos contra do PCP, do
BE, do CDS, no dia 12 de Setembro, o projecto de construção de um hotel no
edifício onde funcionava o antigo Cinema Imperial na Rua Francisco Sanches,
perto da Praça do Chile.
Antes de ser
Imperial, o cinema chamava-se Pathé-Cinema, data de 1926 e em 1931 sofreu importantes
obras, viu os seus equipamentos serem modernizados e mudou de nome, o mesmo com
que encerrou portas nos anos 80. Nos anos 90 ainda funcionou como discoteca, mas
o projecto não teve pernas para danças, fossem elas quais fossem.
Nasci e cresci
numa parte da cidade rodeada de cinemas mas na sua totalidade já não funcionam
como tal.
Passo a
enumerar:
O Cine-Oriente
foi demolido, o Royal, dá gaurida ao Supernetcado Pingo Doce, o Lys,, virou edifício de escritórios e lojas
do Calçado Guimarães, o Rex também virou lojas que vendem tudo e mais alguma
coisa,, o Max, é hoje a Igreja de São João Evangelista, o Imperial está
entijolado desde os anos 90, o Império deu lugar a uma seita dita religiosa e, não se sabe por
quanto tempo, ainda mantém o café com o mesmo nome.
Bernardo
Bertolucci disse que só se aprende a ver cinema vendo cinema.
Foi isso que eu
fiz gozando do privilégio de ter crescido rodeado de cinemas por todos os
lados.
Talvez por isso
um dia disse que o cinema foi o seu primeiro amor, mas o tal rapaz que escreve
como os jogadores de futebol, lembrou: «Então e o Benfica?».
Tive que
rectificar: o cinema foi o meu segundo amor.
E por cinemas e
clichés de bairro, fica sempre bem lembrar Molero, pela pena entusiasmante de Dinis Machado:
«O poema diz: Há pombos esquecidos nas estátuas
desta cidade naufragada. Mastros de sombra escrevem o teu nome e em cada letra
reconheço a madrugada. Mulheres e homens, enlaçados de cansaço, dormem um sono
fundo, com raízes. Das margens desse sono se levantam as pedras das palavras
que não dizes. Foge o mar dos meus dedos entre a noite, e a noite é uma canção
que te procura. Nos meus olhos ardem estrelas encharcadas que rodeiam de azul a
tua altura. Cada esquina é um cais à tua espera. Faróis e candeeiros chamam por
ti. Como um sonho deslizo e permaneço na rua da janela onde te vi. Finalmente
os pombos largados, partindo desta estátua que tu és». Houve outra pausa. «Este
poema», disse Austin, «intitula-se The High Window, germinou muito tempo dentro
dele e foi escrito anos depois, quando começou a ler e a amar os livros de
outro escritor, Raymond Chandler, homem triste cheio de humor, que criou uma
espécie de herói de aluguer, labiríntico e algo macerado, a quem os outros
serviam logo ao pequeno-almoço, e sem direito a notícia nos jornais, pontapés
na boca do estômago misturados com traição».
Fontes: Os Cinemas de Lisboa de Margarida Acciaiuoli
Legenda: a terceira fotografia é tirada do blogue
Restos de Colecção
Sem comentários:
Enviar um comentário