quinta-feira, 17 de outubro de 2019

OLHARES

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A minha vida profissional desenrolou-se, primeiro numa empresa alemã de import-export, que fugiram logo após o 25 de Abril sem pagar um chavo aos trabalhadores, depois numa agência de navegação.

Ambas as empresas tinham escritórios no Cais do Sodré.

Durante todo esse tempo, tinha o privilégio de subir e descer o Chiado.

Assisti a todas as transformações que a zona foi sofrendo ao longo dos anos, e nesse lapso de tempo está o trágico incêndio que, naquele 25 de Agosto de 1988 provocou o drama que não mais esquecerá.

Soube agora que a Casa Pereira, na Rua Garrett nº  38, tem os dias contados

Uma loja pequena, mercearias finas, aberta desde 1930.

Volta e meia entrava mesmo que não tivesse nada para comprar. Deliciava-me com o aroma do café, cujos lotes eram preparados pelos trabalhadores e o olhar pelas prateleiras repletas de bolachas artesanais, chás, chocolates, garrafas de licores e Vinho do Porto.

Naturalmente, a Casa Pereira fez parte dos 63 estabelecimentos que em 2016 formaram o primeiro grupo do programa Lojas com História.

Muitos já fecharam portas ou mudaram de ramo.

Lê-se no sítio da Câmara Municipal de Lisboa, que Lojas com História é um

«Projeto que surge no âmbito de um programa criado em Fevereiro de 2015 e que tem como prioridade trabalhar com o comércio tradicional e histórico da cidade de Lisboa no sentido de, por um lado, preservar e salvaguardar os estabelecimentos e o seu património material, histórico e cultural, e por outro lado, dinamizar e reativar a atividade comercial, essencial para a sua existência. É movido por um sentido de urgência na proteção deste património, sabendo que nele reside uma parte relevante da identidade e caráter da cidade e que é, ao mesmo tempo, um importante mecanismo social e económico para o desenvolvimento da cidade.»


Mas os donos da Casa Pereira vão fechar portas no final do ano.

As exigências actuais do negócio não se compadecem com romantismos.

Já está tudo apalavrado e a loja vai ser vendida mas, tanto quanto se sabe, não se manterá no ramo.

«Antigamente, 80% eram clientes habituais, agora quase todos os clientes são turistas e gente de passagem.»

Por Dezembro, os chocolates para os netos ainda serão comprados na Casa Pereira e tentarei dar-lhes conta do significado que isso encerra.

Tentarei…

1 comentário:

Figueiredo disse...

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