A minha vida
profissional desenrolou-se, primeiro numa empresa alemã de import-export, que
fugiram logo após o 25 de Abril sem pagar um chavo aos trabalhadores, depois
numa agência de navegação.
Ambas as
empresas tinham escritórios no Cais do Sodré.
Durante todo
esse tempo, tinha o privilégio de subir e descer o Chiado.
Assisti a todas
as transformações que a zona foi sofrendo ao longo dos anos, e nesse lapso de
tempo está o trágico incêndio que, naquele 25 de Agosto de 1988 provocou o
drama que não mais esquecerá.
Soube agora que
a Casa Pereira, na Rua Garrett nº 38,
tem os dias contados
Uma loja
pequena, mercearias finas, aberta desde 1930.
Volta e meia
entrava mesmo que não tivesse nada para comprar. Deliciava-me com o aroma do
café, cujos lotes eram preparados pelos trabalhadores e o olhar pelas prateleiras
repletas de bolachas artesanais, chás, chocolates, garrafas de licores e Vinho
do Porto.
Naturalmente, a
Casa Pereira fez parte dos 63 estabelecimentos que em 2016 formaram o primeiro
grupo do programa Lojas com História.
Muitos já fecharam
portas ou mudaram de ramo.
Lê-se no sítio
da Câmara Municipal de Lisboa, que Lojas com História é um
«Projeto que surge no âmbito de um programa criado em
Fevereiro de 2015 e que tem como prioridade trabalhar com o comércio
tradicional e histórico da cidade de Lisboa no sentido de, por um lado,
preservar e salvaguardar os estabelecimentos e o seu património
material, histórico e cultural, e por outro lado, dinamizar e reativar a
atividade comercial, essencial para a sua existência. É movido por um sentido
de urgência na proteção deste património, sabendo que nele reside uma parte
relevante da identidade e caráter da cidade e que é, ao mesmo tempo, um importante
mecanismo social e económico para o desenvolvimento da cidade.»
Mas os donos da
Casa Pereira vão fechar portas no final do ano.
As exigências
actuais do negócio não se compadecem com romantismos.
Já está tudo
apalavrado e a loja vai ser vendida mas, tanto quanto se sabe, não se manterá
no ramo.
«Antigamente, 80% eram clientes habituais, agora quase
todos os clientes são turistas e gente de passagem.»
Por Dezembro, os
chocolates para os netos ainda serão comprados na Casa Pereira e tentarei dar-lhes
conta do significado que isso encerra.
Tentarei…
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