Bendito sejas,
Meu verdadeiro conforto
E meu verdadeiro amigo!
Quando a sombra, quando a noite
Dos altos céus vem descendo
A minha dor,
Estremecendo, acorda…
A minha dor é um leão
Que lentamente mordendo
Me devora o coração.
Canto e choro amargamente;
Mas, a dor, indiferente,
Continua…
Então,
Febril, quase louco,
Corro a ti, vinho louvado!
— E a minha dor adormece,
E o leão é sossegado.
Quanto mais bebo mais dorme:
Vinho adorado,
O teu poder é enorme!
E eu vos digo, almas em chaga,
Ó almas tristes sangrando:
Andarei sempre
Em constante bebedeira!
Grande vida!
— Ter o vinho por amante
E a morte por companheira!
António Botto em
Canções
Legenda: pintura
de Jan Fyt
Sem comentários:
Enviar um comentário