O Tribunal Supremo
de Espanha já autorizou o Governo a transferir o corpo de Francisco Franco do
Vale dos Caídos para o cemitério de Mingorrupio, na povoação de El Pardo,
arredores de Madrid.
O ditador Franco
e o vale dos Caídos trouze-me à memória algo que aconteceu em Fevereiro de 1965.
Num jogo, para a
Taça dos Clubes Campeões Europeus, o Benfica de Eusébio & Cª, no Estádio da
Luz, derrotou o Real Madrid por cinco bolas a uma.
Face a essa
vitória, o tri-semanário Mundo Desportivo, titulou, à largura da sua 1ª página:
«O “Vale dos Caídos” mudou-se para Lisboa.»
Na crónica,
assinada por José Valente, a abrir a prosa, podia ler-se:
«Não foi realmente a batalha de Aljubarrota. Nem tão pouco a de Valverde, ou qualquer outra em que os espanhóis e os portugueses tivessem escrito páginas gloriosas da sua história. Mas foi bonito assistir-se à vitória do futebol sobre o do Real Madrid.»
Franco terá
amarinhado pelas paredes acima, Salazar fez suas as dores do colega ditador, e
terá mandado recado à direcção do jornal.
Em resultado do
recado o jornalista foi despedido e a censura determinou a proibição, durante
oito dias, da publicação do jornal.
No dia 5 de Março, quando o jornal voltou a ser publicado, lia-se na 1ª página:
«A Empresa Nacional de Publicidade e o director do “Mundo Desportivo” lamentam e repudiam as expressões contidas numa crónica inserida neste jornal e que muito feriram a sensibilidade dos seus leitores. Ao autor da referida crónica, chefe de redacção do “Mundo Desportivo”, único e total responsável pelo escrito que veio a público, foram aplicadas as sanções que o caso requeria.»
Já agora,
recorde-se que, nesse jogo, o Benfica alinhou:
Costa Pereira,
Cavém, Germano, Raul, Cruz, Pérides, Coluna, José Augusto, Torres, Eusébio e
Simões.
Os golos foram
marcados por José Augusto, Eusébio (29), Coluna e Simões.
O Benfica chegou
à final da Taça mas acabou por a perder. Num jogo, realizado em Milão, 27 de Maio
de 1965, com o Inter, Costa Pereira deu um enorme frango, e, ressentindo-se de
um toque com Mazzola, abandonou o relvado. Naquele tempo, não havia
substituições e Germano foi para a baliza, ficando o Benfica reduzido a dez
unidades.
Quando a
comitiva do Benfica chegou ao Aeroporto da Portela, Costa Pereira fazia-se
transportar numa cadeira de rodas.
Da tal «lesão» acabou por curar-se mas, da vergonha daquele enorme frango, jamais.
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