Prestava serviço
militar obrigatório no Regimento de Infantaria nº 5 nas Caldas da Raínha e, por esse
motivo, uma qualquer entidade recensearam-me nessa cidade.
Se fossemos votar, tinham-nos
avisado de que os nossos votos seriam rigorosamente vigiados.
Decidimos na mesma
ir votar em força na Oposição Democrática.
Sabíamos da
inutilidade dos nossos votos, mas isso era uma outra história.
Se nas sessões
de instrução nocturna fazíamos, em lugar das balelas militares, a leitura de
poemas de A Praça da Canção de Manuel Alegre, aquele domingo não era tempo de assobiar
para o lado.
Ainda na noite
das eleições, o comandante da unidade foi informado da expressão do voto dos
milicianos na CDE. O número (cerca de 80) permitiu que não houvesse graves
consequências. Quem daria instrução no dia seguinte?
Mas, obviamente,
a PIDE ficou a saber das nossas opções políticas.
Copio da
Wikipédia:
«As eleições legislativas portuguesas de 1969 foram
as primeiras realizadas após a saída de António de Oliveira Salazar da
Presidência do Conselho. Decorreram num clima de aparente abertura política,
designado por Primavera Marcelista. Realizaram-se no dia 26 de
Outubro, tendo concorrido quatro listas: União Nacional ("Lista
A"), Comissão Eleitoral de Unidade Democrática ("Lista
B"), Comissão Democrática Eleitoral("Lista D") e Comissão
Eleitoral Monárquica ("Lista C"). A União Nacional elegeu a
totalidade dos 130 deputados, obtendo 980 mil votos. As listas
oposicionistas obtiveram somente 133 mil, não conseguindo , no quadro do
sistema eleitoral maioritário e plurinominal, eleger qualquer deputado para
a Assembleia Nacional.»
Para que a farsa
dessas eleições fosse completa, Salazar, em estado vegetal. foi votar.
Na fotografia que encima o texto, Salazar encontra-se ladeado por uma enfermeira e pela governanta Maria.
Na fotografia que encima o texto, Salazar encontra-se ladeado por uma enfermeira e pela governanta Maria.
As eleições
realizaram-se no dia 26 de Outubro de 1969 e no dia 24 Marcelo Caetano
dirigira-se à Nação.
São estas as
palavras finais da comunicação:
Ficam os títulos
dos jornais no dia seguinte às eleições:
Diário de
Notícias:
«O Primeiro Grande Resultado da Eleição de Ontem: Vitória do Civismo.
Afluência record e ordem completa.
A Oposição Não Conseguiu Vencer em Nenhum dos Círculos
em que se Apresentou e a Assembleia Nacional Será Constituída pelos Deputados
que Eram da União Nacional.»
O Século:
»A Expressiva Vontade da Nação: «Sim» ao Prof. Marcelo Caetano.»
Diário da Manhã:
Esmagadora Vitória da Nação Sobre as oposições Ditas
Democráticas.
Em números
toscos refere-se que, da população maior, em cada 1000, 700 não estavam
recenseados; dos 300 recenseados, 115 abstiveram-se, 162 votaram pela União
Nacional e 22 pela Oposição Democrática.
Recorde-se, que
Mário Soares realizou o seu primeiro acto público de divisionismo constituindo a CEUD contra a CDE.
A ditadura apreciou o sinal.
Não que os votos da CEUD, juntamente com os da CDE, servissem para eleger um deputado, os dados estavam antecipadamente viciados, mas, como diria o outro, «não havia necessidade!»
A ditadura apreciou o sinal.
Não que os votos da CEUD, juntamente com os da CDE, servissem para eleger um deputado, os dados estavam antecipadamente viciados, mas, como diria o outro, «não havia necessidade!»
Outras
histórias!
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