No passado dia
10 foram atribuídos os Prémios Nobel da Literatura referentes a 2018 e 2019. O
do ano passado â escritora escritora polaca Olga Tokarczuk e o deste ano ao
austríaco Peter Handke.
Quatro dias
depois desta atribuição, morria Sara Danius, 57 anos, vítima de cancro, a
primeira mulher a ocupar o cargo de secretária permanente da Academia Sueca,
responsável pela entrega do prémio. Foi sob a sua direcção que a Academia Sueca
atribuiu o Nobel da Literatura a Bob Dylan, à jornalista bielorussa Svetlana
Alexievitch, ao britânico Kazuo Ishiguro.
Mas foi também
sob a sua direção que a instituição teve de lidar com um escândalo sem
precedentes, movido por acusações de abusos sexuais contra Jean-Claude Arnault,
marido de Katarina Frostenson, membro da Academia e por ambos dirigirem um
clube literário que contava com o apoio da Academia. A crise que acabaria por
levar não só à sua demissão como ao adiamento da entrega do Nobel da Literatura
do ano passado para 2019.
Nunca li nada de
Olga Tokarczuk que confessou ter sido apanhada de surpresa pela notícia, algures
a meio de uma auto-estrada, num lugar sem nome, afirma acreditar numa literatura
que una as pessoas e que mostre quão semelhantes são, que nos torna conscientes
do facto de estarmos ligados por fios invisíveis. Que conta a história do mundo
como se este fosse um todo vivo e uno, desenvolvendo-se de forma constante à
frente dos nossos olhos, e no qual nós temos um pequeno, mas poderoso papel.
A Academia Sueca
justificou a escolha de Olga Tokarczuk «por uma imaginação narrativa que, com
paixão enciclopédica, representa o cruzamento de fronteiras como uma forma de
vida».
Para a Academia
sueca, a escritora «nunca vê a realidade como algo estável ou permanente e constrói
os seus romances numa tensão entre opostos culturais; natureza 'versus'
cultura, razão 'versus' loucura, masculino 'versus' feminino, casa 'versus'
alienação».
A «grande obra»
da laureada é, para a Academia, o «impressionante romance histórico Os
livros de Jacob, publicado em 2014 e sem edição em português.
Em Portugal, a
autora tem publicado apenas um livro, Viagens, vencedor do Prémio Man
Booker Internacional em 2018, e Conduz o Teu Arado Sobre os Ossos dos Mortos,
livro que foi finalista do Prémio Booker internacional deste ano.
Ambos estão editados na Cavalo de Ferro.
Só li um livro
de Peter Handke, A Angústia do Guarda-Redes Antes do Penalty e comprei-o
depois de ter visto o filme, baseado no livro e realizado por Wim Wenders.
Curiosamente, há
quem pense o mesmo, no momento do penalty, não é o guarda-redes que sofre
qualquer angústia, mas sim o marcador do penalty. Ninguém está muito à espera
que o guarda-redes defenda o penalty, se isso acontece tudo bem, mas a angústia,
essa está toda no lado do marcador do penalty.
Não desgostei,
mas não fiquei com aquele interesse entusiasmante de voltar a ler obras suas.
A Academia
entende a atribuição a Peter Handke «por um trabalho influente que, com
engenhosidade linguística, explorou a periferia e a especificidade da experiência
humana.»
A atribuição do
Nobel da Literatura de Literatura provoca sempre largas controvérsias. A de
Peter Handke promete vasta discussão.
A principal
associação de vítimas do genocídio de 1995 na cidade bósnia de Srebrenica
anunciou que pedirá a retirada do Prémio Nobel de Literatura 2019 a Peter
Handke, acusando-o de defender responsáveis por crimes de guerra.
Munira Subasic,
presidente da associação “Mães de Srebrenica”, disse:
«O homem que
defendeu os carniceiros dos Balcãs não pode ter esse prémio. Ficámos
muito afectados como vítimas. Como é que alguém que defende
criminosos pode receber o Prémio Nobel e, acima de tudo, defende aqueles que
cometeram o genocídio?»
Em Srebrenica,
milícias servo-bósnias assassinaram 8.000 homens e rapazes muçulmanos em
1995 durante a guerra na Bósnia, um acto que a justiça internacional descreveu
como genocídio.
Peter Handke é
um admirador confesso de Slobodan Milosevc que foi condenado pelos graves
crimes ocorridos durante a guerra dos Balcãs.
O primeiro-ministro
da Albânia, Edi Rama, face à atribuição deste Nobel, não receou as palavras de
condenação:
«Eu nunca pensei
que tivesse vontade de vomitar por causa de um Prémio Nobel, mas a vergonha
está a tornar-se uma parte normal do mundo em que vivemos.
Não, não podemos
ser tão insensíveis ao racismo e ao genocídio!»
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