segunda-feira, 14 de outubro de 2019

PRÉMIOS NOBEL DA LITERATURA 2018/2019


No passado dia 10 foram atribuídos os Prémios Nobel da Literatura referentes a 2018 e 2019. O do ano passado â escritora escritora polaca Olga Tokarczuk e o deste ano ao austríaco Peter Handke.

Quatro dias depois desta atribuição, morria Sara Danius, 57 anos, vítima de cancro, a primeira mulher a ocupar o cargo de secretária permanente da Academia Sueca, responsável pela entrega do prémio. Foi sob a sua direcção que a Academia Sueca atribuiu o Nobel da Literatura a Bob Dylan, à jornalista bielorussa Svetlana Alexievitch, ao britânico Kazuo Ishiguro.

Mas foi também sob a sua direção que a instituição teve de lidar com um escândalo sem precedentes, movido por acusações de abusos sexuais contra Jean-Claude Arnault, marido de Katarina Frostenson, membro da Academia e por ambos dirigirem um clube literário que contava com o apoio da Academia. A crise que acabaria por levar não só à sua demissão como ao adiamento da entrega do Nobel da Literatura do ano passado para 2019. 

Nunca li nada de Olga Tokarczuk que confessou ter sido apanhada de surpresa pela notícia, algures a meio de uma auto-estrada, num lugar sem nome, afirma acreditar numa literatura que una as pessoas e que mostre quão semelhantes são, que nos torna conscientes do facto de estarmos ligados por fios invisíveis. Que conta a história do mundo como se este fosse um todo vivo e uno, desenvolvendo-se de forma constante à frente dos nossos olhos, e no qual nós temos um pequeno, mas poderoso papel.

A Academia Sueca justificou a escolha de Olga Tokarczuk «por uma imaginação narrativa que, com paixão enciclopédica, representa o cruzamento de fronteiras como uma forma de vida».

Para a Academia sueca, a escritora «nunca vê a realidade como algo estável ou permanente e constrói os seus romances numa tensão entre opostos culturais; natureza 'versus' cultura, razão 'versus' loucura, masculino 'versus' feminino, casa 'versus' alienação».

A «grande obra» da laureada é, para a Academia, o «impressionante romance histórico Os livros de Jacob, publicado em 2014 e sem edição em português.

Em Portugal, a autora tem publicado apenas um livro, Viagens, vencedor do Prémio Man Booker Internacional em 2018, e Conduz o Teu Arado Sobre os Ossos dos Mortos, livro que foi finalista do Prémio Booker internacional deste ano.

 Ambos estão editados na Cavalo de Ferro.

Só li um livro de Peter Handke, A Angústia do Guarda-Redes Antes do Penalty e comprei-o depois de ter visto o filme, baseado no livro e realizado por Wim Wenders.

Curiosamente, há quem pense o mesmo, no momento do penalty, não é o guarda-redes que sofre qualquer angústia, mas sim o marcador do penalty. Ninguém está muito à espera que o guarda-redes defenda o penalty, se isso acontece tudo bem, mas a angústia, essa está toda no lado do marcador do penalty.

Não desgostei, mas não fiquei com aquele interesse entusiasmante de voltar a ler obras suas.

A Academia entende a atribuição a Peter Handke «por um trabalho influente que, com engenhosidade linguística, explorou a periferia e a especificidade da experiência humana.»

A atribuição do Nobel da Literatura de Literatura provoca sempre largas controvérsias. A de Peter Handke promete vasta discussão.

A principal associação de vítimas do genocídio de 1995 na cidade bósnia de Srebrenica anunciou que pedirá a retirada do Prémio Nobel de Literatura 2019 a Peter Handke, acusando-o de defender responsáveis por crimes de guerra.

Munira Subasic, presidente da associação “Mães de Srebrenica”, disse:

«O homem que defendeu os carniceiros dos Balcãs não pode ter esse prémio. Ficámos muito afectados como vítimas. Como é que alguém que defende criminosos pode receber o Prémio Nobel e, acima de tudo, defende aqueles que cometeram o genocídio?»

Em Srebrenica, milícias servo-bósnias assassinaram 8.000 homens e rapazes muçulmanos em 1995 durante a guerra na Bósnia, um acto que a justiça internacional descreveu como genocídio.

Peter Handke é um admirador confesso de Slobodan Milosevc que foi condenado pelos graves crimes ocorridos durante a guerra dos Balcãs.

O primeiro-ministro da Albânia, Edi Rama, face à atribuição deste Nobel, não receou as palavras de condenação:

«Eu nunca pensei que tivesse vontade de vomitar por causa de um Prémio Nobel, mas a vergonha está a tornar-se uma parte normal do mundo em que vivemos.
Não, não podemos ser tão insensíveis ao racismo e ao genocídio!»

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